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30 de out. de 2012

Resenha de "CRISE DE 1929, SOBERANIA NA POLÍTICA ECONÔMICA E INDUSTRIALIZAÇÃO"


CANO, W. Crise de 1929, Soberania na Política Econômica e Industrialização. IN: CANO, W. Ensaios sobre a formação econômica regional do Brasil. Ed. Unicamp, 2002.


De que o crack da bolsa de Nova York em 1929 foi importante para impulsionar o processo de industrialização nos países da América Latina não resta dúvida, a contar do registro de inúmeros trabalhos feitos pela CEPAL sobre o assunto, inclusive ao incorporar às análises feitas não apenas esta crise, mas também ao seqüenciamento de outros "choques adversos externos" que igualmente contribuíram com a expansão desse processo. Insuficiente para explicar o desenvolvimento da indústria entre as décadas de 1930 e 1970, porém, escapou a tal teoria, como demonstra Cano nesse artigo, a incorporação e a análise sobre a importância dos fatores "endógenos", através do papel indutor dos Estados Nacionais, necessários não apenas para romper com o antigo padrão de acumulação capitalista (primário-exportador), mas principalmente para possibilitar a acumulação e reprodução do capital que possibilitara o desenvolvimento da industrialização, em diferentes medida, nos países latino-americanos.

O autor em momento algum nega a importância dessas crises para o desenvolvimento da indústria na região. Pelo contrário, atribui a cada uma delas, relacionadas ao período considerado, a possibilidade de aumento do grau de liberdade em termos externos para cada um desses países, em maior ou menor grau, em relação às suas decisões de política econômica, diretamente contrária ao desejo e interesses "imperialistas" inglês e norte-americano, que por sua vez estavam voltados à manutenção do antigo padrão de acumulação daqueles países, como forma de evitar a possibilidade da reprodução regional do excedente gerado pela demanda interna, bem como a defesa dos seus interesses econômicos.

Esta "luta pela industrialização na América Latina", notadamente no caso brasileiro, consistiu em uma série de mecanismos anticíclicos adotados pelo Governo a partir de 1931, posteriormente consideradas keynesianas – tais como impostos sobre novas plantações e exportações das sacas de café, queima dos estoques desse produto para sustentação do seu preço, desvalorizações cambiais, aumento do déficit público, rebaixamento dos salários nominais e restrição das importações – todos necessários à manutenção do nível de renda interna e sem os quais não seria possível o "deslocamento do centro dinâmico" da economia nacional.

Para o autor são fundamentalmente essas condições, largamente associadas às "brechas" oferecidas pelo imperialismo durante os "estrangulamentos" externos, as que possibilitaram com que a indústria se tornasse o principal determinante do nível de atividade nos países latino- americanos (os mais avançados já na década de 1930 e os menos a partir de 1950), ao passo que a determinância das exportações para acumulação do capital passara ao segundo plano. Trata-se, finalmente, do início do chamado "processo de industrialização" ocorrido nesses países.   

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