Abas/ guias

31 de out. de 2012

Resenha de "ACUMULAÇÃO DE CAPITAL E INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL" - Cáp. 3


TAVARES, M, C, T. A cumulação de Capital e Industrialização no Brasil. Unicamp, Instituto de Econômica, 1998, 3ª. Ed. Cáp. III; 1 e 2).


Insuficiente para explicar o processo de industrialização ocorrido entre as décadas de 1930 e 1970 no Brasil, a teoria da "substituição de importações" só se sustenta teoricamente em termos formais, ou meramente descritivos, mas não basta para analisar a dinâmica da "dominância do capital industrial no processo global de acumulação [capitalista]" que teve curso no país. Ao avaliar ser de suma importância a atribuição sobre as intervenções do Estado nacional autônomo em termos externos, com relação às decisões de política econômica do governo realizadas através dos mecanismos endógenos "anticíclicos" adotados, necessários à expansão industrial no país, Tavares admite, por diversas vezes nesse texto, a inviabilidade do modelo da dinâmica "externa-interna" que ajudara a construir na proposição originária e central do pensamento cepalino.

Ao privilegiar à sua nova análise os aspectos "internos" do movimento de acumulação de capital no país entre os anos 1933 e 1955, então denominado "Industrialização Restringida," a autora passa a avaliar adequadamente a questão da industrialização brasileira, ao mesmo tempo em que torna a tecer novas críticas também a outras teorias, notadamente à tese de Cardoso de Mello sobre o "Capitalismo Tardio". Ela aponta que também esse autor não resolveu a questão maior sobre a industrialização nesse período, ao deixar de considerar, nesse ciclo, a contradição existente entre os setores produtivos, notadamente à exclusiva dependência da nossa economia em relação ao setor de bens de consumo duráveis, ou "assalariados", que pouco se estendeu à produção interna de bens de capital, ainda insipiente, mesmo ambos sendo protegidos da concorrência externa devido à diminuição da capacidade de importar do país.

Tavares defende que é o aumento da produção interna de bens leves no período que permitiu a reprodução ampliada no período, uma vez que possibilitou tanto a reprodução da força de trabalho, como de parte do capital excedente das empresas industriais. A autora acrescenta, ainda, relutando em concordar completamente com a incorporação da variável "endógena" à análise, que o aumento da autonomia do Estado em relação ao capital internacional, no período, apenas aparente segundo o seu ponto de vista, deveu-se não aos interesses nacionalistas do Estado e da burguesia nacional, mas fundamentalmente à falta da necessidade de aquisição de recursos externos novos, uma vez que havia excesso de capacidade instalada no país. É apenas a partir do Plano de Metas (1956-1960), que Tavares classifica de essencialmente decorrente da unificação dos interesses dos capitais público e privado internacional, que os esforços da acumulação e reprodução inclinam-se prioritariamente ao setor de bens de capital, que encerra, por fim, sua nova análise sobre os fundamentos do processo de industrialização no Brasil.  

30 de out. de 2012

Resenha de "CRISE DE 1929, SOBERANIA NA POLÍTICA ECONÔMICA E INDUSTRIALIZAÇÃO"


CANO, W. Crise de 1929, Soberania na Política Econômica e Industrialização. IN: CANO, W. Ensaios sobre a formação econômica regional do Brasil. Ed. Unicamp, 2002.


De que o crack da bolsa de Nova York em 1929 foi importante para impulsionar o processo de industrialização nos países da América Latina não resta dúvida, a contar do registro de inúmeros trabalhos feitos pela CEPAL sobre o assunto, inclusive ao incorporar às análises feitas não apenas esta crise, mas também ao seqüenciamento de outros "choques adversos externos" que igualmente contribuíram com a expansão desse processo. Insuficiente para explicar o desenvolvimento da indústria entre as décadas de 1930 e 1970, porém, escapou a tal teoria, como demonstra Cano nesse artigo, a incorporação e a análise sobre a importância dos fatores "endógenos", através do papel indutor dos Estados Nacionais, necessários não apenas para romper com o antigo padrão de acumulação capitalista (primário-exportador), mas principalmente para possibilitar a acumulação e reprodução do capital que possibilitara o desenvolvimento da industrialização, em diferentes medida, nos países latino-americanos.

O autor em momento algum nega a importância dessas crises para o desenvolvimento da indústria na região. Pelo contrário, atribui a cada uma delas, relacionadas ao período considerado, a possibilidade de aumento do grau de liberdade em termos externos para cada um desses países, em maior ou menor grau, em relação às suas decisões de política econômica, diretamente contrária ao desejo e interesses "imperialistas" inglês e norte-americano, que por sua vez estavam voltados à manutenção do antigo padrão de acumulação daqueles países, como forma de evitar a possibilidade da reprodução regional do excedente gerado pela demanda interna, bem como a defesa dos seus interesses econômicos.

Esta "luta pela industrialização na América Latina", notadamente no caso brasileiro, consistiu em uma série de mecanismos anticíclicos adotados pelo Governo a partir de 1931, posteriormente consideradas keynesianas – tais como impostos sobre novas plantações e exportações das sacas de café, queima dos estoques desse produto para sustentação do seu preço, desvalorizações cambiais, aumento do déficit público, rebaixamento dos salários nominais e restrição das importações – todos necessários à manutenção do nível de renda interna e sem os quais não seria possível o "deslocamento do centro dinâmico" da economia nacional.

Para o autor são fundamentalmente essas condições, largamente associadas às "brechas" oferecidas pelo imperialismo durante os "estrangulamentos" externos, as que possibilitaram com que a indústria se tornasse o principal determinante do nível de atividade nos países latino- americanos (os mais avançados já na década de 1930 e os menos a partir de 1950), ao passo que a determinância das exportações para acumulação do capital passara ao segundo plano. Trata-se, finalmente, do início do chamado "processo de industrialização" ocorrido nesses países.   

29 de out. de 2012

Resenha de "SOBERANIA E POLÍTICA ECONÔMICA NA AMÉRICA LATINA" - Cap. 1


CANO, W. Soberania e Política Econômica na América Latina. UNESP/Unicamp-Economia, São Paulo/Campinas, 2000. Cap. 1.


Compreender o processo de inserção e evolução das economias periféricas no sistema capitalista, com destaque à relação dos países latino americanos e as economias desenvolvidas centrais em um período conturbado e repleto de crises conjunturais como o século XX é uma tarefa que requer uma análise cuidadosa, tal qual foi feita por Cano no primeiro capítulo dessa obra. Com o objetivo de discutir os acontecimentos que marcaram os interesses regionais e o conflito com o panorama macroeconômico da época, o autor subdivide o período em três etapas, cada uma das quais correspondentes ao grau de soberania nacional conquistado pelo conjunto de países inseridos nessa região periférica.

A primeira etapa, considerada entre os anos 1929 e 1979, correspondeu, segundo o autor, ao momento em que os países da periferia latino-americana, inicialmente prejudicados com a fuga dos capitais forâneos aplicados na América Latina e com a ruptura do padrão de acumulação (agro-exportador), adquiriram grau de soberania nacional "no exercício e no manejo da política econômica de 'desenvolvimento'" com vista à montagem de parques industriais. Trata-se, contudo, de um período em que, apesar das inúmeras tentativas de imposição das políticas imperialistas impostas pelos EUA, economia hegemônica à época, como patrocínio a regimes ditatoriais e golpes militares que serviam a seu interesse, os governos intervencionistas dos países latino-americanos puderam, em maior ou menos grau, explorar as brechas com vistas ao planejamento e crescimento da região.

Para consolidar suas indústrias leve, logo após a Segunda Guerra Mundial, e pesada, durante o II PND, os países mais industrializados da periferia adotaram uma série de medidas macro prudenciais em direção aos seus interesses, tais como administração do câmbio, priorização de importações, readequação tarifária sobre a produção interna e, sobretudo, um virtuoso processo de expansão monetária via endividamento externo que, logo nas décadas seguintes, 1980 e 1990, correspondentes às segunda e terceira etapas do período selecionado, implicaram em volumosos déficits nos seus balanços de pagamentos, levando-os a abrir mão da sua soberania para, então, subordinarem-se às políticas neoliberais impostas pelo ideário norte-americano, como ruptura dos monopólio públicos, privatizações, abertura comercial, corte de gastos públicos correntes e desregulamentações aos capitais internacionais.

Para que mais tais reformas foram feitas, se não para minar a autonomia dessa região em detrimento dos interesses do grande capital internacional, sob a forma de Empresas Transnacionais (ETs), que viram na globalização, comercial, produtiva e financeira, a condição necessária para a reprodução ampliada e centralização do seu capital?

13 de out. de 2012

Resenha de "HETEROGENEIDADE ESTRUTURAL E MODELO DE DESENVOLVIMENTO RECENTE"


PINTO, A. Heterogeneidade estrutural e modelo de desenvolvimento crescente. IN SERRA, J. (Coord). América Latina: ensaios de interpretação econômica. Paz e Terra, RJ, 1979, 2ª. Ed.


Crescer de forma homogênea em relação aos diferentes setores produtivos não era condição que se revelasse a qualquer país no curso dos anos 1960. Esse pôde ser o caso de alguns Estados nacionais inseridos ao "estrato moderno" do processo de industrialização, como os países mais avançados da Europa, entre os quais Alemanha, países nórdicos e países do Benelux, além também dos EUA. No caso da América Latina, porém, e até mesmo em algumas partes dos países mais atrasados da Europa, como Espanha e Itália, foi justamente o processo de heterogeneidade estrutural que se faz majoritariamente presente nessas regiões, então marcadas pela "débil integração interna dos excedentes intercambiáveis entre os sistemas, a baixa produtividade e alta concentração espacial", conforme afirma Aníbal Pinto nesse artigo.

Dado o atraso técnico, o aumento do endividamento externo e o alto grau de dependência, o autor procurou demonstrar quais foram os desdobramentos dessa estrutura heterogênea às economias latino-americanas, ainda inseridas no estrato primitivo da sociedade durante o período compreendido como a segunda fase do "desenvolvimento para dentro", à qual corresponde à ascensão da indústria de bens de consumo "pesados" paralelamente à já estruturada indústria de bens "leves", ou tradicionais, e que consistiu, finalmente, tanto na "mutação substancial do padrão da demanda [interna]", como na má "distribuição de renda" social e intersetorial à época.

Devido ao aumento do déficit no Balanço de Pagamentos e da dificuldade crescente para obtenção de crédito produtivo de longo prazo nessas economias, Pinto demonstra que não lhes restava outra saída para aumentar o dinamismo interno se não fosse através do influxo de Investimentos Diretos Estrangeiros (IDE) advindos dos estratos industriais modernos nos "setores-chave". Essas inversões tanto poderiam causar ampla irradiação aos demais setores (complementares) da economia, como facilitar a aquisição de componentes técnicos mais sofisticados e relativamente de difícil obtenção.

Tal condição trata, adicionalmente, de um verdadeiro processo de "estrangerização" e dependência tecnológica desses países em relação ao exterior, além, como afirma o autor, "da alienação dos centros de decisão" nacionais e elevado custo social, sem que se leve em conta, com isso, ao aumento da distribuição de renda a fim de que haja maior acesso a esses bens, de "destino seletivo" às classes de mais alta renda, além da melhor alocação dos recursos limitados em favorecimento da maior produtividade e possibilidade de integração regional e setorial.

11 de out. de 2012

Resenha de "A ECONOMIA LATINO-AMERICANA" - Cap. I a V, VII e IX


FURTADO, C. A Economia Latino-Americana. Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1978, 2ª. Ed. Cap. I a V, VII e IX.


O entendimento sobre a formação econômica, social e regional da América Latina desde o período colonial até os acontecimentos imediatamente posteriores à II Guerra Mundial, sobretudo a passagem em que é revelado o processo de inserção dessa localidade nos padrões da divisão internacional do trabalho, ficam evidentes após a leitura atenta dos capítulos selecionados dessa obra de Celso Furtado. Anteriormente à determinação das bases da ocupação territorial realizada na região, o autor procurou apontar os principais aspectos físicos e demográficos que condicionaram o processo de colonização nas Américas espanhola e portuguesa, ainda no século XVI, e que se estenderam, com as devidas particularidades, até o momento marcado pelas lutas de independência dos Estados nacionais registradas ao longo do século XIX.

Segundo a divisão geográfica proposta por Furtado, o continente americano fraciona-se em três grandes conjuntos, entre os quais o México setentrional, o istmo americano e relevo sul-americano. Ocupadas por encomenderos, no caso espanhol, que eram responsáveis por produzir um excedente para enviar a Europa geralmente sob a forma de metais preciosos, sobretudo a prata extraída no México e no Peru sob o regime da "mita" (baixos salários pagos aos índios para o trabalho nas minas), esses territórios deram origem a autênticos pólos de crescimento regionais.  Após a decadência da economia mineira, o processo de descentralização econômica deu origem à grande propriedade agrícola de dominação de uma pequena minoria que, por sua vez, influenciou a instituição básica de toda a ordenação produtiva e social a partir do século XVIII, e das quais procedeu ao binômio latifúndio-comunidade indígena e o latifúndio-minifúndio, similares às formas feudais européias, porém, formadas por uma estrutura pré-capitalista de dominação.

Com a independência dos países sul-americanos e a influência das burguesias locais apoiadas no progresso técnico e pelo capital inglês, a inserção dessa região nos padrões capitalistas da divisão internacional do trabalho foi intensificada a partir da primeira metade do século XIX, momento em que se inicia a grande expansão da corrente de comércio internacional de bens manufaturados e matérias primas sob a lei das vantagens comparativas entre Estados nacionais. Após a crise de 1929 tal processo adquire importância declinante, ao passo que levou à inconsistência do padrão ouro e à crise da dívida externa nas economias periféricas, fato intensificado após a II Guerra Mundial, quando o déficit crescente do Balanço de Pagamentos dessas economias as tornou completamente dependentes das determinações impostas pelo FMI sob a égide norte-americana.

10 de out. de 2012

Resenha de "O CAPITALISMO TARDIO" - Introdução e Cap. I


CARDOSO DE MELLO, J. M. O Capitalismo Tardio. Brasiliense, São Paulo, 1982, Introdução e Cap. I

Além de avançar em relação às leituras feitas a partir de 1949 pela corrente da Economia Política Cepalina sobre a problemática da desigualdade e da pobreza que atingem a economia Latino Americana, Cardoso de Mello propõem em sua análise a introdução de aspectos históricos e sociais, seguindo as contribuições de F. H. Cardoso e E. Falleto, anteriormente ignorados, ou simplesmente abstraídos pela primeira corrente. De acordo com a teoria da dependência externa da América Latina levantada pela Cepal, a região sempre ficara relegada à miséria, seja no período colônia, durante a fase agro-exportadora, e até mesmo após o momento da corrida técnico-financeira, em razão da inexistência, ou do dinamismo das indústrias nacionais em comparação às dos países centrais, conforme a dualidade Centro-Periferia e, conseqüentemente, à deterioração dos termos de troca e do padrão da divisão internacional do trabalho à qual estava submetida.
            
Uma vez introduzida a industrialização nacional no país, a contar sobretudo da produção de bens de produção e de consumo durável iniciadas a partir da segunda metade da década de 1950, durante a fase nacional desenvolvimentista ocorrida no Brasil (a com maior sucesso entre os países da região), a soberania da produção nacional não contribuíra, como era esperado, com a redução das desigualdades econômicas no país. Pelo contrário, elas permaneciam elevadas em relação às economias centrais. A redefinição do impasse foi proposta por F. H. Cardoso e F. Falleto e depois incorporadas à nova análise de Cardoso de Mello, na qual defendeu a ideia da insuficiência das previsões puramente econômicas para explicar os acontecimentos na América Latina. O autor procurou redefinir as perspectivas ao considerar condições históricas particulares, ou seja, o modo de produção capitalista na América Latina com bases sociais historicamente dependentes, bem como dos objetivos e interesses dos grupos, classes e movimentos sociais dominantes.

É isso, em última instância, que permitiu ao autor propor a análise da história latino americana como formação e desenvolvimento de um certo capitalismo, nos quais qualquer semelhança entre os aspectos sociais eram meramente formais. Cardoso de Mello reconstrói o conceito de economia colonial defendendo sua função como instrumento de acumulação primitiva aos interesses vitoriosos do capital mercantil nacional e a diferencia da fase exportadora capitalista, esta, de fato, baseada nos interesses do capital industrial externo em explorar a mão de obra assalariada necessária à a sua reprodução ampliada.

4 de out. de 2012

Resenha de "O MOVIMENTO DA INDUSTRIALIZAÇÃO NAS ECONOMIAS CAPITALISTAS CENTRAIS NO PÓS-GUERRA" - Cáp. II


TEIXEIRA, A. O movimento da Industrialização nas Economias Capitalistas Centrais no Pós-Guerra. RJ, IEI/UFRJ, Texto para discussão, no. 25, 1983. Cap II


O destino da ordem econômica capitalista internacional transformou-se com o fim da segunda Guerra Mundial (1939-1945) e a relação das suas forças hegemônica nacionais no plano mundial foi substancialmente modificada. Nesse texto de Aloísio Teixeira, o autor apresenta as alterações sofridas nas estruturas produtivas industriais e na corrente de comércio internacional, ao demonstrar os principais progressos tecnológicos em curso nas economias capitalistas centrais; a evolução do cenário macroeconômico mundial, com correspondência ao comportamento das variáveis endógenas que levaram à evolução da renda nacional de cada uma dessas economias e; as etapas em que todas essas mudanças ocorreram: entre o imediato pós-guerra e o ano 1949 (recuperação), de 1950 a 1969 (aceleração) e daí à crise do petróleo, em 1973 (desaceleração).

Dos acontecimentos desse período, o autor destaca o processo de disseminação e padronização da base tecnológica norte-americana às economias selecionadas, sobretudo nas mercadorias dos setores com maior dinamismo econômico, principalmente indústrias metal mecânica (automóveis, tratores, máquinas, equipamentos), e a química, notadamente o petróleo que, em substituição ao carvão, incorporou cada vez mais participação na matriz energética desses países. Entre eles se saíram consagrados Alemanha e Japão, em maior grau, devido ao grande aumento dos investimentos e das exportações realizadas, além de, em menor grau, Itália, França e países do norte europeu.

O processo teve início com Plano Marshall (1947), quando os padrões de consumo do wellfare state difundiram-se mundialmente. Foi após as desvalorizações das moedas dos países capitalistas centrais em 1949, no entanto, que a demanda agregada mundial ganhou força para estimular o aumento do investimento e da produtividade na indústria de transformação. Assim foi que o efeito multiplicador do setor de bens de capital espalhou-se aos outros setores dessas economias e impulsionou o "círculo virtuoso cumulativo", descrito por Kaldor e Fajnzylber, nos vinte anos subseqüentes. A economia mundial desacelerou-se a partir de 1969, quatro anos antes do choque do petróleo que intensificou as tendências geradas anteriormente, e ficou marcada, entre outros, pelo aumento do endividamento das famílias, empresas e governos nacionais, além do processo de pressão inflacionária internacional.

3 de out. de 2012

Resenha de "A EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO MODERNO" - Cap. X

HOBSON, J. A. A Evolução do Capitalismo Moderno. Abril, SP, 1993, Cap X


Indispensável à passagem do capitalismo primitivo ao industrial moderno a partir do último quarto do século XIX nos EUA foi a classe dos grandes "financistas" – patrocinadores, banqueiros, corretores de títulos mobiliários e câmbio. A eles que os organizadores dos grandes conglomerados industriais recorriam para adquirir o crédito para desenvolver as tecnologias que lhes permitiria expandir empreendimentos em grande escala de produção – como ferrovias e minas – levando-os à concentração do excedente dos seus rendimentos.

Conforme Hobson descreve no capítulo X dessa obra, intitulado "O Financiador", o grande financista assumiu o posto de autoridade monetária do sistema econômico ao passo que, em troca de uma taxa com a qual garantia sua rentabilidade, ele servia de agente intermediário entre os investidores anônimos e os entrepreneus, ou organizadores dos conglomerados industriais, ao administrar o capital ocioso de uns para financiar vários canais de investimento produtivo, sob a forma de ativos financeiros, dos outros.

Para eles, contudo, pouco importava a parte tangível desses ativos, constituídos pelo número de plantas produtivas, máquinas e pelo verdadeiro limite da capacidade real de expansão industrial, senão que por sua parte "fria", formada por informações privilegiadas, documentos contábeis adulterados, valorização da imagem da marca, número de patentes, posição no mercado (que pode ser perdida caso a tecnologia se torne obsoleta), superestimação da capacidade de produção, e tudo isso para manipular os preços dos títulos que lhes permita comprar das empresas na baixa e vender na alta ao investidor amador, finalmente prejudicado pelo boom passageiro.
            
Dessa forma, segundo o autor, como o crédito se converteu cada vez mais na força vital da indústria moderna, "a classe dos que controlam o crédito se tornou mais poderosa", passou a exercer poder sobre diversas fontes de financiamento, sobretudo ferrovias (ativo imobilizado que garantia segurança ao capital), trustes industriais, e bancos, bem como retirar uma cota maior da riqueza dos negócios em geral. Esgotadas as fronteiras nacionais para reprodução do capital financeiro, novas áreas de investimento eram facilmente dominadas pelos poucos grupos que expandiam seu poder financeiro, industrial e comercial pelo mundo. Grandemente subordinado ao capital financeiro internacional, como é que cada Estado nacional poderia tirar proveito desses investimentos para favorecer seu desenvolvimento econômico e o da sua população?

2 de out. de 2012

Resenha de "NOTAS SOBRE O IMPERIALISMO HOJE"

CANO, W. Notas sobre o Imperialismo Hoje. In Crítica Marxista. v.1 no. 3. São Paulo: Brasiliense, 1993.

O imperialismo tal qual conhecemos no mundo capitalista de hoje, seus objetivos, características, efeitos e formas de conquista e dominação de uma sociedade sobre a outra, é o objeto da análise desse texto de Cano, que remete o leitor às diversas fases em que o fenômeno foi identificado desde o período pré-capitalista, quando o processo de exploração ultramarina entre os séculos XV e XVIII garantiu as primeiras formas de "acumulação originária", ou, como formulou Marx, formas de "acumulação primitiva do capital", que nesse momento foram marcadas por violência, pilhagem e colonização territorial.

Foi na transição entre a primeira para a segunda revolução industrial, no século XIX, contudo, que o imperialismo assumiu o formato mais semelhante daquele que conhecemos hoje. O autor recorreu aos apontamentos feitos por Lênin sobre o que esse último denominou ter sido a "fase superior do capitalismo" para apresentar as características e transformações sofridas pelo imperialismo neste momento da história. Em linhas gerais, as observações de Lênin apontaram para o aumento da concentração do capital na produção, a passagem da pequena para a grande indústria, a "fusão" do capital industrial com o capital financeiro, o aumento das exportações do capital financeiro, a formação de monopólios internacionais, a moderna colonização e o surgimento dos rentiers, ou especuladores do mercado financeiro.

O imperialismo sofreu novo revés após o final da Segunda Guerra Mundial, quando o processo de bipolarização do mundo entre EUA e a antiga URSS fez com que sua hegemonia fosse mantida através de políticas de "ajuda" e reconstrução, mas que pouco surtiram o efeito pretendido. A partir da década de 1970, com a crise da dívida externa dos estados nacionais e o processo de internacionalização dos bancos e empresas multinacionais em busca de mercados para reproduzir seu capital, o ideal neoliberal foi o que imprimiu a nova tônica ao imperialismo.

Nos países desenvolvidos, as políticas de ajuste neoliberais foram sentidas com a intensificação do processo de globalização (financeira e produtiva), a partir dos anos 1990. Seria o déficit no Balanço de Transações Correntes o responsável por ter feito com que esses países adotassem medidas de ajuste que apenas contribuíram para ampliar o poder monopolista dos grandes grupos privados multinacionais, como as desregulamentações e privatizações de estatais? 

1 de out. de 2012

Resenha de "O AUGE E A QUEDA DAS ECONOMIAS KEYNESIANAS"

BLEANEY, M. The Rise ans Fall of Keynesian Economics: An investigation of its contribution to capitalist development. London: Macmillan, 1985. p. 40-80

            Mais difícil que o experimentar uma crise financeira como a de 1929 deve ter sido sentir seus efeitos logo em seguida ao estopim, durante a década de 1930, quando a queda dos preços das mercadorias em todo o mundo assolou economias centrais e delas exigiu medidas de ajustes para retomada do crescimento. No segundo capítulo da obra de Bleaney, Escaping from the Great Depresseion, o autor demonstra que antes mesmo de Keynes ter finalizado sua obra revolucionária, a "Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda", em 1933, países como EUA, Suécia, França e Alemenha, cada qual a seu modo, já haviam adotado um conjunto de medidas não ortodoxas para combater os efeitos da crise, incluindo políticas de caráter fiscal. É explicado, também, para esse conjunto de países, como tais políticas foram conduzidas ao longo da década, seus desdobramentos para a economia do país e, também para o mundo capitalista. 

Nos EUA, as políticas fiscais expansionistas promovidas pelo presidente Hoover no início da década, como gastos em obras públicas e melhoria das condições previdenciárias aos veteranos da primeira Guerra Mundial, foram seguidas pelas medidas do New Deal orientadas sob o governo Roosevelt. A adoção de medidas cambial (desvalorização do câmbio), monetária (redução da taxa de juros, manutenção de preços e salários), e fiscal (investimentos públicos e programas de seguro social) não evitaram a nova crise de 1937-38, provavelmente efeito da má aplicação da teoria do pump priming, na qual o Estado só pode abrandar sua política fiscal expansionista ao passo que o setor privado já esteja novamente saudável para retomar sua taxa de investimentos. Inversamente, o autor classifica a Suécia como o caso de maior êxito na adoção das políticas keynesiasnas. A aplicação do pump priming nesse país possibilitou que, em 1935, sua taxa de investimentos já ultrapassasse os níveis pré-crise contribuindo, assim, com sua a rápida reconstrução. Na França o destaque foram às leis redistributivas adotadas por Léon Blum (pagamento de férias remuneradas e diminuição da carga de trabalho de 48 para 40 horas), que não apenas serviram para estimular a demanda agregada, como para descontinuar a soberania do capital financeiro e industrial no país. Na Alemanha, além da política fiscal (gastos públicos na área de habitação) e monetária (controle de preços e salários) para evitar a inflação, os gastos militares e o memorando da guerra nazista foram os predominantes para a reconstrução do país.