Abas/ guias

14 de jun. de 2012

Quanto vale a natureza?

Realizado em São Paulo no dia 13 de junho pela CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), o simpósio da UNEP-SBCI (Sustainable Buildings and Climate Initiative), iniciativa ligada ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA ou UNEP, em inglês), reuniu especialistas, profissionais e instituições ligadas ao tema para debater os desafios ligados ao setor da construção civil na atualidade. Intitulado “Eficiência no Uso de Recursos e Economia Verde: Oportunidades para Edifícios e Cidades Sustentáveis”, o evento teve como abordagem os temas Eficiência e Economia Verde reforçando, desse modo, o conjunto de encontros preparativos para a Conferência RIO+20, a ser realizada no Rio de Janeiro nos dias 20 a 22 de junho.

Entre os especialistas presentes teve destaque a participação do economista indiano Pavan Sukhdev, Chefe da Iniciativa em Economia Verde da UNEP e presidente- fundador da empresa de consultoria ambiental GIST Advisory (Green Initiatives for a Smart Tomorrow), que trouxe novas abordagens e elementos para o melhor entendimento sobre o que ele mesmo chamou de “esverdeamento” da economia.

Além dele, participaram do evento representantes do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável , SECOVI-SP , Prefeitura de São Paulo, Secretaria do Verde e Meio Ambiente do Município de São Paulo , Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades, Secretaria da Habitação e Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), Universidade de São Paulo (USP-SP), Centro de Construções Sustentáveis da BCA (Singapura), Centre Scientifique et Technique du Bâtiment (França), Green Building Council (México), Capital E (USA), entre outros que apresentaram exemplos e práticas adotadas em algumas dessas localidades. Veja programação completa


Abertura

A abertura do encontro foi feita pelo sociólogo e coordenador da Assessoria Técnica e de Planejamento do Sesc São Paulo, Sérgio José Battistelli, que imprimiu tônica ao evento ao convidar o público presente à busca de soluções aos novos desafios do planeta. “Somos protagonistas chamados ao centro do palco para dizer o que vamos fazer para a atual e futuras gerações. A sociedade está em busca de respostas e ferramentas aos novos desafios econômicos, principalmente em relação aos impactos ambientais e ecológicos devastadores causados pela intervenção humana nas cidades e centros urbanos. A sociedade precisa questionar os antigos paradigmas e modelos de produção, investindo em outros mais inclusivos e menos danosos ao meio ambiente”, completou.

Foi Arab Hoballah, no entanto, Chefe de Consumo e Produção Sustentáveis da Divisão de Tecnologia, Indústria e Economia da UNEP, quem trouxe o atual problema das cidades ao centro do debate. De acordo com Hoballah, “as cidades não são ilhas isoladas, mas, pelo contrário, são territórios que guiam ao crescimento da economia, causando uma série de impactos desastrosos ao meio ambiente. Sendo responsáveis pelas mudanças no contexto mundial que afetam a sustentabilidade do planeta, elas devem incorporar, portanto, novos modelos de construções, transportes e manejo de resíduos, todos fundamentais à sua manutenção ao longo do tempo”. Outro tema destacado foi a relação entre Economia Verde e emprego, a saber que milhares de postos de trabalho poderão ser gerados a partir do uso de “tecnologias verdes”. “Construções sustentáveis geram benefícios no mundo e nos mercados reais”, concluiu ele.

Logo em seguida e abordando a importância da sinergia entre os atores da cadeia produtiva da construção civil para busca da sustentabilidade, Marcelo Takaoka, presidente do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável, concentrou-se nas implicações da atual fragmentação entre os agentes do setor. “É importante aumentar a sinergia entre os stakeholders e os governos. Trata-se de um jogo ganha-ganha”. Segundo Takaoka, se o setor da construção não for pró-ativo continuará à mercê das antigas legislações e da pouca ousadia dos governos, que mal abordam as possíveis ações a serem feitas em prol da sustentabilidade. Completa que “se o governo for mais agressivo, aumentará a formalidade do setor da construção civil”.

Na breve passagem pelo evento, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, concentrou-se em agradecimentos a parceiros presentes e fez uma breve menção sobre os temas ali discutidos. “O assunto em pauta tem muita relevância para as cidades, sobretudo para oferecer a nós todos conforto e ganho de eficiência”, disse ele.

Convidando o público a uma reflexão, Cláudio Bernardes, presidente da SECOVI-SP (Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo), indagou sobre a necessidade de melhor planejamento para o desenvolvimento das futuras cidades sustentáveis, justamente em um momento em que a população mundial é majoritariamente urbana. De acordo com os dados do estudo World Urbanisation Prospects, atualizado periodicamente pelo Departamento de Economia e Relações Sociais da ONU, há atualmente 50% da população mundial vivendo em áreas urbanas, mas que consome 60-80% de energia, assim como é responsável por 75% das emissões de carbono. A estimativa é de que ela chegue a 80% em 2030, conforme dados apresentados. “Não há problema que existam muitos carros na cidade. O problema é que eles estejam na rua", provocou Bernardes. Entre os principais questionamentos levantados por ele estão: “Como garantir de forma economicamente viável modelos de produção que resultem melhores empregos? Como a Economia Verde se concentra na interseção da economia? Que tipo de cidades devemos discutir? Como aglutinar a população e adotar medidas que lhe assegure qualidade de vida?”


Palestra Magna

Convidado para ministrar a palestra magna do encontro, Pavan Sukhdev, Chefe da Iniciativa em Economia Verde da UNEP e presidente-fundador da consultoria GIST Advisory, abordou as possibilidades de transição do atual modelo de produção para um sistema econômico sustentável. Ao avaliar os prejuízos causados pela destruição do meio ambiente, Sukhdev sugeriu uma nova sistemática de produção com base, sobretudo pelo fim da invisibilidade econômica do meio ambiente. “Não se trata de colocar um preço sobre o valor da natureza, até porque a abelha não passa um recibo quando produz o mel, mas ampliar a consciência dos agentes econômicos para o custo dos impactos sobre o capital natural e social”, explica Sukhdev. “Em verdade nós estamos monetizando a natureza só que da pior maneira possível. Por causa da invisibilidade econômica do meio ambiente, nós estamos atribuindo um valor igual a zero à natureza”, argumenta.

Segundo o economista, o foco da Economia Verde é desenhar as transformações nos setores críticos que levem ao “esverdeamento” da economia global. “Trata-se da criação de estratégias viáveis para a concepção de regulações específicas, subsídios, taxas, e reformas relacionadas, além de investimentos públicos e privadas em tecnologias e infraestrutura que tragam baixo ônus ao meio ambiente”. Entre os setores e áreas de estudo foram priorizados: agricultura, construção civil, energia, pesqueiro, silvicultura, indústria, turismo, transporte, lixo e água. Informações detalhadas podem ser acessadas diretamente na página sobre Economia Verde da UNEP.

Para o setor da construção civil, a mensagem é clara. “É importante reforçar a análise do ciclo de vida dos produtos e sistemas empregados em obras, bem como ampliar a preocupação dos empreendedores com as normas de desempenho e critérios sustentáveis, a exemplo da certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e selo AQUA (Alta Qualidade Ambiental), a fim de que possa ser incentivada a criação de ambientes saudáveis e com mais conforto, e que possam gerar milhares de empregos”. Entre os principais resultados esperados com Economia Verde, Sukhdev destacam-se os benefícios para a saúde, a criação de empregos, a melhoria da eficiência energética e do uso de recursos, além da grande produtividade e capacidade de inovação com baixo custo e impactos ambientais reduzidos. Segundo ele, “a cada US$ 1 milhão investidos em Economia Verde são criados de 10 a 14 empregos diretos e outros 3 a 4 indiretos”, concluiu.


Próximos passos

A sociedade está ávida por novos modelos e comportamentos de consumo, mais conscientes, interligados e inclusivos. O espaço para mudança é enorme mas, para isso, é importante que governos, empresas e a sociedade civil mobilizem-se para estimular e pressionar a oferta de produtos e soluções mais eficientes e com baixo impacto ambiental.

Os antigos modelos econômicos, galgados em coeficientes e racionalidades lineares, já não servem à realidade e estão a caminho do esgotamento. Território e ambiente ganham força na nova dinâmica da sociedade, mais complexa, exigente, e preocupada com o meio em que vive. Não há interesse e maneira de voltar atrás. A sustentabilidade já é realidade em muitos países e veio para o Brasil para ficar, estimular novos hábitos e novas formas de relação entre o homem e o espaço.

Perderá quem não quiser enxergar, mas a vida no planeta tente a mudar. Se o planeta clama por cuidado, ganhará com ele apenas quem souber escutá-lo. Mas se ele não fala, a única possibilidade é mesmo senti-lo. Mas se ainda isso não for possível a todos, o mínimo a fazer é respeitá-lo, só isso.

 

Abraços,
 
Rodrigo