Abas/ guias

22 de ago. de 2009

Para, pará, parou!

É mesmo inconcebível pensar uma cidade como São Paulo sem vias para transportes alternativos, como bicicletas, skates e patins. O looby das montadoras é tamanho, que o governo não consegue medir esforços para oferecer opções baratas de transporte que maximizem o bem-estar da população.
ilustração: "Engarrafamento" - Alexandre Affonso

De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade de São Paulo conta hoje com pouco mais de 11 milhões de habitantes e 6 milhões de veículos (Folha online 2008 (http://www1.folha.uol.com.br/folha/%20cotidiano/ult95u374438.shtml), perfazendo a média de um veículo para quase um habitante e meio. Mas estes números, por si só, não seriam alarmantes se a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) registrasse baixos índices de trânsito na cidade.

O congestionamento de veículos na região metropolitana, pelo contrário, é recorrente. Não são apenas os horários de pico que estão comprometidos, mas também os sábados e infelizmente os domingos. Em maio de 2009, São Paulo registrou o seu novo recorde de lentidão na época, com 293 km de vias congestionadas por volta das 19hs daquele dia.

Desde 1996, a Prefeitura adota medidas paleativas para amenizar os problemas causados pelo trânsito, como a adoção do Rodízio Municipal, a restrição de estacionamentos (Zona Azul) e de circulação de caminhões e veículos de carga.

No entanto, não é necessário que ninguém seja um expert para perceber o óbvio! Segundo o princípio de exclusão de Pauli, "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço". Quando há limite de espaço ou de vias, portanto, a inclusão de novos veículos fará com que a cidade pare.

Na verdade, a cidade já parou. Ao menos é o que mostra a repostagem "São Paulo, a cidade lenta" feita pelo G1 de 17 a 21 de agosto de 2009, quando foram medidos índices de lentidão, poluição sonora e visual e alternativas para o trânsito na cidade (http://g1.globo.com/Sites/Especiais/0,,17396,00.html).

De fato, a cidade carece de alternativas e novos paradigmas. São Paulo tem atualmente menos de 35 km de ciclovias não interligadas. Destas, 19 km encontram-se em parques (Ibirapuera, Anhanguera e Carmo) e o restante em ruas e avenidas distantes da região central da cidade, onde se localizam os maiores problemas de trânsito.

ilustração: "Bicicleta" - Leila Pugnaloni


No último 18 de agosto, a jornalista Renata Falzoni destacou no seu blog aquilo que seria quase que um pedido de socorro dos cicloativistas para a construção de ciclovias na cidade (http://espnbrasil.terra.com.br/renatafalzoni/). Segundo um levantamento do cicloativista Henrique Boney, "São Paulo tem 367 ciclovias no papel sendo que destas, 275 deveriam estar prontas em 2006 e o resto em 2012 tudo isso previsto em Planos Estratégicos das Sub Prefeituras (...) Quantos quilômetros desse plano foram executados até agora? Zero" (http://www.ciclobr.com.br/).

Ruas para carros, carros para o trânsito, e este para aumentar o stress do cidadão. Mas quem anda a pé, de skate, patins ou bicicleta, caminha mais feliz. O incentivo ao transporte alternativo não apenas impulsionaria investimentos para a cidade, como contemplaria o desenvolvimento sustentável da região tornando São Paulo um centro de excelência em práticas de bem-estar social. Mais saúde, mais investimentos e um respeito singular ao meio ambiente.

A cidade parou e pede socorro. Cabe ao governo e à sociedade civil ajudá-la.

10 de ago. de 2009

Coisas Humanas


fotoDesigualdade - Sebastião Salgado
Tanto mais a sociedade moderna evolui, mais arcaica parece se tornar. Refiro-me a relação entre os homens. Não só os livros são deixados de lado, mas as reflexões são banalizadas pelas telenovelas, e a ignorância se torna cada vez mais presente no cotidiano. Não se trata apenas das telenovelas, mas da quase totalidade televisiva oferecida à massa, manobrável. O marketing de guerra - ou seja, aquele destrutível - é o ícone da decadência popular. As relações humanas são cada vez mais baseadas nas coisas. Os homens, então, não se relacionam entre eles, mas com os seus smartphones, blue-rays, com seus carros, sapatos, com o "esculturismo" na ponta do seu nariz, enfim, com a mercadoria a sua volta e se deixado levar pelo seu feitiço secreto. A vida se tornou exageradamente materializada, e pouca importância foi dada ao indivíduo, massacrado o suficiente para ter de pensar. O ser, o igual, o próximo, se tornou, nesta fase, uma mercadoria aguda do Capitalismo. Especialmente após os anos 80, o processo de globalização financeira abarcou o mesmo modo de produção não apenas no eixo Ocidental do Globo, mas também às sociedades asiáticas antigas. Pela primeira vez a História testemunhou um mesmo tipo de relação social imposto aos quatro cantos do mundo. Esta relação é fundamentada entre homem e não-homens, mas coisas, e vislumbra ser ainda mais inerente ao processo de decadência da modernidade, inicialmente descrita por K. Marx no ensaio sobre o caráter fetichista da mercadoria e seu segredo: "não é mais nada que determina relação entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas" (MARX, Karl, O Capital, capítulo I, seção 4, 1867). Algo sério e alarmante está diante dos olhos dos que se atem. É chegada à hora da mudança, que lenta e penosa, dará início a um processo de transição na história moderna. Assim como o Mercantilismo foi, na transição do Feudalismo para o Capitalismo, esta nova transição vislumbrará uma evolução no campo das idéias acerca das relações-humanas, tornando exígua a orientação social dirigida à coisa. É esperado um novo tipo de organização produtiva baseado em relações entre gente. Um modelo em ebulição, que só poderá aparecer quando as circunstâncias da vida prática dos homens representarem relações transparentes e racionais entre si, e com a natureza. A massa não será mais manobrável, se é que existirá. "A figura do processo social da vida, isto é, o processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob o seu controle consciente e planejado" (Op. Cit.). O novo homem, portanto, não se deixará mais levar pelo caráter humano das coisas, mas pelo caráter humano dos homens, e se falhar, chegará o dia em que ele nada mais encontrará, senão que a sua própria ilusão.

Rodrigo