Abas/ guias

10 de out. de 2009

Plano Ceibal - um laptop por criança no Uruguai



Grupo da terceira idade dança tango em praça em Montevidéu

Marcado pelos ritmos folclóricos do candombe e do tango, o Uruguai, país sul-americano presidido desde 2005 pelo Governo de Tabaré Vázquez – primeiro líder de esquerda no país - decidiu aprovar, em meados de 2007, o Plan Ceibal, que consiste em uma política de inclusão digital que tem como objetivo doar um laptop a cada criança do ensino primário matriculada nas escolas públicas e professores da rede pública do país.

O Uruguai conta hoje com pouco mais de 3,3 milhões de habitantes, dos quais mais de 350 mil são crianças matriculadas em escolas primárias públicas. O nome Ceibal, além de representar a flor estampada na bandeira nacional do Uruguai, também se tornou a sigla para designar Conectividad Educativa de Informática Básica para el Aprendizaje en Línea, que transformou-se no principal apelo deste programa de caráter sócio-educativo.

O projeto faz parte do plano de inclusão e acesso para a sociedade da informação e conhecimento da ANEP (Administração Nacional para a Educação Pública) e tem gerado repercussão mundial. O Uruguai foi o primeiro país a criar um modelo tecnológico de baixo custo interligando máquinas através da conectividade da banda larga gratuita para os seus beneficiários.

Cerca de 1300 computadores vêm sendo distribuídos diariamente pelo país. O projeto piloto teve início em Cardal (Florida), no interior, e foi amplamente dirigido aos demais estados. Em novembro de 2009, após dois anos e meio do início desta iniciativa pioneira, o Plano Ceibal estará prestes a terminar, na capital Montevidéu, a entrega de todos os cerca de 390 mil pequenos laptops planejados, para estudantes e professores do ensino primário público do Uruguai.


Crianças interagem com o laptop XO

A viabilidade e desenvolvimento tecnológico do Plan Ceibal ficaram a cargo do Laboratório Técnico do Uruguai (LATU), que desenvolveu as máquinas (laptop XO) e tele centros de apoio para manutenção e reparos dos materiais, e a agência reguladora de telecomunicações uruguaia ANTEL, que subsidiou a conectividade. Coube ao Ministério da Educação e Cultura a identificação, orientação e capacitação pedagógica para a sua elaboração, além da participação de outros agentes do governo local e, sobretudo, de um grupo heterogêneo de voluntários organizados para dar suporte às ações planejadas.

Com custo estimado de US$ 100 por computador, o projeto para máquinas foi estimado em pouco mais de US$ 40 milhões. Dados consolidados da ANII (Agencia Nacional de la Investigación y la Innovación) e da Câmara das Indústrias do Uruguay inferem que US$ 8,4 milhões e US$ 16,5 milhões já foram desembolsados nos anos 2007 e 2008, respectivamente, ficando a cargo de 2009 os restantes US$ 15 milhões.

Além da equidade educacional proporcionada pelo Plano Ceibal, o Uruguai faz uma clara demonstração aos mundo da sua intenção em abrir as portas para o futuro da sua juventude eliminando a marginalidade e melhorando sua competência social.

Os próximos passos são realizar, em parceria com o Teleton, uma adequação da tecnologia a ser oferecido às crianças portadoras de deficiências físicas e mentais, substituir máquinas e equipamentos que tem vida útil de apenas três anos, a melhoria do conteúdo didático disponível e, também, aumentar a eficiência da conexão, que hoje não suporta mais de trinta computadores conectados simultaneamente em um mesmo ponto de conectividade.

Dentre os aspectos fortes e fracos analisados, não há como ficar indiferente à proposta, bem como não se sensibilizar com esta ação em detrimento do desenvolvimento econômico deste país. E se há tristeza neste plano, esta fica a cargo das crianças matriculadas nas escolas particulares e os seus pais que, infelizmente, não foram contemplados por esta medida.

Até a próxima,

Rodrigo

Referências:
http://www.ceibal.edu.uy/

http://3vectores.com.ar/blog/2008/10/inclusion-digital-en-uruguay/

http://wiki.laptop.org/go/OLPC_Uruguay/Ceibal

http://latu21.latu.org.uy/es/index.php?option=com_content&view=article&id=371:uruguay-como-referencia-en-la-produccion-de-contenidos-educativos-digitales&catid=35:noticias-de-latu&Itemid=263

http://www.ciu.com.uy/innovaportal/file/IMEQ%20N%C2%BA%208-%204%C2%BA%20Trim%202008.pdf?contentid=14490&version=1&filename=IMEQ%20N%BA%208-%204%BA%20Trim%202008.pdf

http://docs.biotecsur.org/informes/pt/inventario/7_financiamiento_ms.pdf

22 de ago. de 2009

Para, pará, parou!

É mesmo inconcebível pensar uma cidade como São Paulo sem vias para transportes alternativos, como bicicletas, skates e patins. O looby das montadoras é tamanho, que o governo não consegue medir esforços para oferecer opções baratas de transporte que maximizem o bem-estar da população.
ilustração: "Engarrafamento" - Alexandre Affonso

De acordo com os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a cidade de São Paulo conta hoje com pouco mais de 11 milhões de habitantes e 6 milhões de veículos (Folha online 2008 (http://www1.folha.uol.com.br/folha/%20cotidiano/ult95u374438.shtml), perfazendo a média de um veículo para quase um habitante e meio. Mas estes números, por si só, não seriam alarmantes se a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) registrasse baixos índices de trânsito na cidade.

O congestionamento de veículos na região metropolitana, pelo contrário, é recorrente. Não são apenas os horários de pico que estão comprometidos, mas também os sábados e infelizmente os domingos. Em maio de 2009, São Paulo registrou o seu novo recorde de lentidão na época, com 293 km de vias congestionadas por volta das 19hs daquele dia.

Desde 1996, a Prefeitura adota medidas paleativas para amenizar os problemas causados pelo trânsito, como a adoção do Rodízio Municipal, a restrição de estacionamentos (Zona Azul) e de circulação de caminhões e veículos de carga.

No entanto, não é necessário que ninguém seja um expert para perceber o óbvio! Segundo o princípio de exclusão de Pauli, "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço". Quando há limite de espaço ou de vias, portanto, a inclusão de novos veículos fará com que a cidade pare.

Na verdade, a cidade já parou. Ao menos é o que mostra a repostagem "São Paulo, a cidade lenta" feita pelo G1 de 17 a 21 de agosto de 2009, quando foram medidos índices de lentidão, poluição sonora e visual e alternativas para o trânsito na cidade (http://g1.globo.com/Sites/Especiais/0,,17396,00.html).

De fato, a cidade carece de alternativas e novos paradigmas. São Paulo tem atualmente menos de 35 km de ciclovias não interligadas. Destas, 19 km encontram-se em parques (Ibirapuera, Anhanguera e Carmo) e o restante em ruas e avenidas distantes da região central da cidade, onde se localizam os maiores problemas de trânsito.

ilustração: "Bicicleta" - Leila Pugnaloni


No último 18 de agosto, a jornalista Renata Falzoni destacou no seu blog aquilo que seria quase que um pedido de socorro dos cicloativistas para a construção de ciclovias na cidade (http://espnbrasil.terra.com.br/renatafalzoni/). Segundo um levantamento do cicloativista Henrique Boney, "São Paulo tem 367 ciclovias no papel sendo que destas, 275 deveriam estar prontas em 2006 e o resto em 2012 tudo isso previsto em Planos Estratégicos das Sub Prefeituras (...) Quantos quilômetros desse plano foram executados até agora? Zero" (http://www.ciclobr.com.br/).

Ruas para carros, carros para o trânsito, e este para aumentar o stress do cidadão. Mas quem anda a pé, de skate, patins ou bicicleta, caminha mais feliz. O incentivo ao transporte alternativo não apenas impulsionaria investimentos para a cidade, como contemplaria o desenvolvimento sustentável da região tornando São Paulo um centro de excelência em práticas de bem-estar social. Mais saúde, mais investimentos e um respeito singular ao meio ambiente.

A cidade parou e pede socorro. Cabe ao governo e à sociedade civil ajudá-la.

10 de ago. de 2009

Coisas Humanas


fotoDesigualdade - Sebastião Salgado
Tanto mais a sociedade moderna evolui, mais arcaica parece se tornar. Refiro-me a relação entre os homens. Não só os livros são deixados de lado, mas as reflexões são banalizadas pelas telenovelas, e a ignorância se torna cada vez mais presente no cotidiano. Não se trata apenas das telenovelas, mas da quase totalidade televisiva oferecida à massa, manobrável. O marketing de guerra - ou seja, aquele destrutível - é o ícone da decadência popular. As relações humanas são cada vez mais baseadas nas coisas. Os homens, então, não se relacionam entre eles, mas com os seus smartphones, blue-rays, com seus carros, sapatos, com o "esculturismo" na ponta do seu nariz, enfim, com a mercadoria a sua volta e se deixado levar pelo seu feitiço secreto. A vida se tornou exageradamente materializada, e pouca importância foi dada ao indivíduo, massacrado o suficiente para ter de pensar. O ser, o igual, o próximo, se tornou, nesta fase, uma mercadoria aguda do Capitalismo. Especialmente após os anos 80, o processo de globalização financeira abarcou o mesmo modo de produção não apenas no eixo Ocidental do Globo, mas também às sociedades asiáticas antigas. Pela primeira vez a História testemunhou um mesmo tipo de relação social imposto aos quatro cantos do mundo. Esta relação é fundamentada entre homem e não-homens, mas coisas, e vislumbra ser ainda mais inerente ao processo de decadência da modernidade, inicialmente descrita por K. Marx no ensaio sobre o caráter fetichista da mercadoria e seu segredo: "não é mais nada que determina relação entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas" (MARX, Karl, O Capital, capítulo I, seção 4, 1867). Algo sério e alarmante está diante dos olhos dos que se atem. É chegada à hora da mudança, que lenta e penosa, dará início a um processo de transição na história moderna. Assim como o Mercantilismo foi, na transição do Feudalismo para o Capitalismo, esta nova transição vislumbrará uma evolução no campo das idéias acerca das relações-humanas, tornando exígua a orientação social dirigida à coisa. É esperado um novo tipo de organização produtiva baseado em relações entre gente. Um modelo em ebulição, que só poderá aparecer quando as circunstâncias da vida prática dos homens representarem relações transparentes e racionais entre si, e com a natureza. A massa não será mais manobrável, se é que existirá. "A figura do processo social da vida, isto é, o processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob o seu controle consciente e planejado" (Op. Cit.). O novo homem, portanto, não se deixará mais levar pelo caráter humano das coisas, mas pelo caráter humano dos homens, e se falhar, chegará o dia em que ele nada mais encontrará, senão que a sua própria ilusão.

Rodrigo

22 de fev. de 2009

Vou-me embora rumo ao sustentável!

Foto: "Exodus" - Sebastião Salgado
De que há crise ou esgotamento do sistema capitalista, disso não resta dúvida. Não se trata de um colapso, mas de uma falência em que se observa o aumento produtivo gerando grandes mazelas sociais e ambientais. Aos homens não vale rezar, mas pensar além da caixa, para alguma solução que possa minimizar, ou, até mesmo aniquilar tamanhos déficits. O conceito de desenvolvimento sustentável traz, neste sentido, uma alternativa para se pensar o crescimento econômico através da máxima eficiência no uso dos recursos existentes na terra.


Nem mesmo os altos padrões de consumo existentes nos países desenvolvidos têm sido capazes de frear a fome, o desemprego, as guerras, o incessante desmatamento da região dos trópicos e as ondas de aquecimento global nos pólos. Não se trata aqui de uma defesa ao socialismo já derrotado, mas uma crítica a um modelo em falência que gera destruição e a aniquilação da biodiversidade na terra.

Ao pensar o desenvolvimento na Era do Meio-ambiente, é chegada a hora de o homem parar com os dogmatismos e miopias de curto-prazo e pensar o processo produtivo através do aproveitamento racional da natureza, incorporado seu valor á nova cadeia. Trata-se do rumo a uma moderna civilização baseada em biomassa, cujos recursos presentes na biodiversidade são tratados eficientemente pela biotecnologia.

Desde a conferência de Estocolmo, em 1972, o professor Ignacy Sachs vem alertando sobre essa problemática, a qual designou mais tarde "ecosocioeconomia". Não por menos, entendeu o processo pela harmonia entre os agentes produtivos: ecologia, sociedade e economia. Na época, porém, o embate entre os ortodoxos econômicos e pessimistas do meio-ambiente era tamanho, que pouca importância foi referida ao tema.

É mesmo irônico pensar que a Economia, uma ciência social arraigada fundamentalmente na evolução histórica, siga em sentido contrário àquele de tantas outras disciplinas científicas que buscam grau de excelência. Ao trabalhar em prol do desenvolvimento selvagem e do crescimento perverso que busca o lucro do lasseiz-faire como última instância, não é mesmo de se admirar que se tornasse uma ciência sombria.

Sachs sugere o retorno a Economia Política e a existência de um planejamento negociado e contratual dos recursos naturais, simultaneamente aberto para as preocupações ambientais, sociais e econômicas. Sobretudo nos países em desenvolvimento, que detém condições climáticas propícias à abundância dos recursos naturais, há a oportunidade de se pular etapas e definir novas tendências mundiais a serem seguidas.

Ao Estado cabe o papel fundamental de fiscalizar, subsidiar e corrigir as deficiências, de modo a projetar e produzir estratégias dimensionadas para o aproveitamento dos recursos sustentáveis em demérito à utilização em grande escala de combustíveis fósseis, transporte rodoviário, energia nuclear e pesca ilimitada.

O desenvolvimento sustentável traz à tona a necessidade do pensamento multidisciplinar como oportunidade de salvação, ou ao menos, redução dos diversos danos e custos causados durante todos esses anos à sociedade e a natureza. Faz-se necessário uma combinação entre Ecologia e Economia, pois enquanto as ciências naturais descrevem quais os recursos necessários para um mundo sustentável, as ciências sociais articulam as estratégias de transição rumo a este caminho.


Rodrigo Hisgail Nogueira

24 de jan. de 2009

Permacultura na Jordânia


Sistema de agricultura sustentável implantado em Al Jowfa
A permacultura, um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente atrativos foi criada pelos ecologistas australianos Bill Molison e David Homegren na década de 1970.

Entre as suas principais vertentes pode-se citar fontes de energia renováveis, construção de casas ecológicas, sistemas de reciclagem de esgoto, reutilização da água e agricultura sustentável, sendo está ultima a principal técnica utilizada na Jordânia.

Em uma visita a pequena aldeia de Al Jowfa, na Jordânia, a cinqüenta quilômetros da capital Amã, o australiano e discípulo de Molison, Geoff Lawton, então casado com a jordaniana Nadia, decidiu buscar alternativas para modular um projeto de agricultura sustentável na região.

Situada próxima à porção oriental do mar morto, e caracterizada por relevo irregular e clima desértico ou semi-árido, a região de Jowfa sofre com a escassez de água para uso doméstico e para a irrigação. A água tratada é trazida em caminhões-pipa e o seu uso é feito com muito rigor e sabedoria. A fim de reduzir o volume de água costumeiramente necessária para irrigação das plantações, Lawton propôs a um grupo de agricultores que participassem das aulas ministradas por ele a fim de discutirem sobre métodos alternativos de irrigação e agricultura sustentável.

As técnicas usadas eram bastante simples, customizadas e totalmente adaptadas a realidade local, motivo pelo qual o curso obteve grande número de adeptos. Dentre as práticas, Lawton propôs três ideais centrais.
A primeira consistiu na terraplanagem dos planaltos que formavam degraus separados por paredes de pedras para retenção da água da chuva. A segunda diz respeito ao uso de matéria orgânica preparada por meio de composteiras para enriquecimento, manutenção da temperatura e retenção da água no solo. A última, certamente a mais onerosa e utilizada de forma pioneira no país vizinho, Israel, é a técnica de irrigação por gotejamento, garantindo a maximização da utilização da água por semente plantada.

Finda a parte teórica, apenas alguns poucos agricultores puderam disponibilizar de capital para colocar em prática a nova proposta, acarretando customização de gastos ao longo dos anos. Segundo os agricultores Abdala, Mohmmed e Heil, que possuem uma vasta plantação de bananas comercializadas para a capital do país, o uso da permacultura reduziu em até dez vezes os custos operacionais do negócio, tendo ainda o benefício da não agressão ao solo por meio de materiais nocivos, como os agrotóxicos.

Não preciso dizer que a experiência foi magnífica. Infelizmente a falta de patrocínio e incentivo tanto público como privado não permite com que trabalhadores dediquem-se integralmente a esta atividade, ainda onerosa para os padrões locais de um povo sacrificado. Contudo, a proposta foi colocada em prática e já vem gerando frutos para o início de outros projetos na região. Fica aí mais uma idéia de qualidade e de bem com o meio-ambiente.

Até a próxima,