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10 de ago. de 2009

Coisas Humanas


fotoDesigualdade - Sebastião Salgado
Tanto mais a sociedade moderna evolui, mais arcaica parece se tornar. Refiro-me a relação entre os homens. Não só os livros são deixados de lado, mas as reflexões são banalizadas pelas telenovelas, e a ignorância se torna cada vez mais presente no cotidiano. Não se trata apenas das telenovelas, mas da quase totalidade televisiva oferecida à massa, manobrável. O marketing de guerra - ou seja, aquele destrutível - é o ícone da decadência popular. As relações humanas são cada vez mais baseadas nas coisas. Os homens, então, não se relacionam entre eles, mas com os seus smartphones, blue-rays, com seus carros, sapatos, com o "esculturismo" na ponta do seu nariz, enfim, com a mercadoria a sua volta e se deixado levar pelo seu feitiço secreto. A vida se tornou exageradamente materializada, e pouca importância foi dada ao indivíduo, massacrado o suficiente para ter de pensar. O ser, o igual, o próximo, se tornou, nesta fase, uma mercadoria aguda do Capitalismo. Especialmente após os anos 80, o processo de globalização financeira abarcou o mesmo modo de produção não apenas no eixo Ocidental do Globo, mas também às sociedades asiáticas antigas. Pela primeira vez a História testemunhou um mesmo tipo de relação social imposto aos quatro cantos do mundo. Esta relação é fundamentada entre homem e não-homens, mas coisas, e vislumbra ser ainda mais inerente ao processo de decadência da modernidade, inicialmente descrita por K. Marx no ensaio sobre o caráter fetichista da mercadoria e seu segredo: "não é mais nada que determina relação entre os próprios homens que para eles aqui assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas" (MARX, Karl, O Capital, capítulo I, seção 4, 1867). Algo sério e alarmante está diante dos olhos dos que se atem. É chegada à hora da mudança, que lenta e penosa, dará início a um processo de transição na história moderna. Assim como o Mercantilismo foi, na transição do Feudalismo para o Capitalismo, esta nova transição vislumbrará uma evolução no campo das idéias acerca das relações-humanas, tornando exígua a orientação social dirigida à coisa. É esperado um novo tipo de organização produtiva baseado em relações entre gente. Um modelo em ebulição, que só poderá aparecer quando as circunstâncias da vida prática dos homens representarem relações transparentes e racionais entre si, e com a natureza. A massa não será mais manobrável, se é que existirá. "A figura do processo social da vida, isto é, o processo da produção material, apenas se desprenderá do seu místico véu nebuloso quando, como produto de homens livremente socializados, ela ficar sob o seu controle consciente e planejado" (Op. Cit.). O novo homem, portanto, não se deixará mais levar pelo caráter humano das coisas, mas pelo caráter humano dos homens, e se falhar, chegará o dia em que ele nada mais encontrará, senão que a sua própria ilusão.

Rodrigo

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