Muito se discute sobre a possível
desestabilização monetária da economia brasileira nos últimos anos e, ao
contrário do que tem sido largamente propagado nas manchetes, o nível de preços
tem se mantido estável no Brasil ao longo dos anos, especialmente quando comparado
a outras economias emergentes de porte similar (Gráfico 1).
Gráfico 1 – Evolução da inflação acumulada em doze meses em países selecionados (Jan-2008 a Dez-2015) – em % acumulada em 12 meses
Nota: Índices de preços ao consumidor
Fonte: IBGE; OCDE
Ao longo do período de 2008 a 2015, a
evolução dos índices de preços dos países do chamado BRICS (Brasil, Rússia,
Índia, China e África do Sul), além de Turquia e Indonésia, concentraram-se principalmente
entre os níveis de preços de 5% a.a. e 10% a.a.. Esse comportamento também é
apresentado na inflação média dos países do BRICS, que registrou suas maiores
altas em Julho de 2008 (9,4% a.a.), Junho de 2011 (7,2% a.a.) e Dezembro de
2015 (7,3% a.a.).
Em contrapartida, as
variações mais acentuadas corresponderam aos casos da Rússia - que alcançou
picos de 15,1% a.a. em Setembro de 2008 e 16,9% em Março de 2015 -, Índia - com
picos de 16,2% a.a. em Janeiro de 2010 e 12,1% em Fevereiro de 2013 –, e
Turquia - com picos de 12% a.a. em Outubro de 2008 e 11,1% a.a. em Abril de
2012.
A principal exceção ao conjunto foi a
China. Após registrar variação de preços de 8,7% a.a. em Fevereiro de 2008, a economia
chinesa registrou deflação entre os meses de Fevereiro e Outubro de 2009 (-1,8%
a.a.), quando seguiu nova alta até alcançar 6,4% a.a. em Junho de 2011. Desde
aí o índice de inflação da economia chinesa seguiu em queda, alcançando 3,2%
a.a. em Fevereiro de 2013, quando teve uma gradativa queda, alcançando 1,6%
a.a. em Dezembro de 2015.
No caso brasileiro, a evolução da inflação
entre os anos de 2008 e 2014 apresentou variação constante, permanecendo entre
4,5% a.a. e 6,5% a.a., tendo apresentado os menores patamares de inflação para
o período logo após aquela registrada pela China. No entanto, no ano de 2015 a
inflação brasileira sofreu uma acentuada elevação, atingindo 10,7% no final
desse ano.
A partir da evolução do Índice de Preços
ao Consumidor Amplo (IPCA) medido pelo IBGE, nas suas composições de preços
livres e monitorados, verifica-se que a elevação desse índice ao longo de 2015
teve forte influência da elevação dos preços administrados pelo Governo Federal
“(correspondentes a 25% da cesta de consumo), sobretudo os da energia, e da
forte desvalorização cambial” (DEPE, 2015, p. 2), que alcançou 1,00 USD : 4,14
BRL em Setembro de 2015. O IPCA referente aos preços livres variou 8,5% no ano
de 2015, enquanto que o referente aos preços administrados foi de 18,1% no
mesmo período (Gráfico 2).
Gráfico 2 – Evolução do IPCA (var. acumulada em 12
meses)
Fonte: DEPE. Baseado em: IBGE; FGV; BCB.
Por um lado o aumento da inflação no Brasil em
2015 foi resultado da correção dos preços administrados pelo setor público e processo
de desvalorização do Real. Por outro, sabendo-se que tais preços já estão
corrigidos em 2016, a variação da inflação mostra-se estável nos últimos anos,
juntamente à variação da inflação registrada em outras economias emergentes de
porte similar.
Nem aqui nem na China, a tese dos que seguem a afirmar que o Brasil corre o risco de perder o controle monetário vai chegando ao fim. Fraca e midiática, ela ignora, ou simplesmente esquece que, no caso brasileiro, o mecanismo de controle inflacionário está determinado, desde a implementação do plano Real (1994) e consolidação do regime de metas de inflação (1999), pela taxa básica de juros, a Selic.
Ao manter-se elevada como a maior taxa de juros reais do mundo, isto é, atraindo capitais especulativos de toda parte (nacionais e especialmente estrangeiros), a Selic desincentiva a "demanda efetiva", o investimento privado e, subsequentemente, o nível de preços geral, forçando, assim, o retorno à estabilidade monetária ao longo do tempo. Se há outras variáveis que influenciam a variação da inflação, como a determinação de preços administrados pelo Governo Federal, ou o que é ainda pior, a formação e cartéis privados, isto não há dúvidas, sendo este último, provavelmente, o verdadeiro e pouco comentado risco para desestabilizar os preços no país.
Bibliografia:
DEPE –
GRUPO DE PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E POLÍTICA ECONÔMICA. Boletim DEPE. Pontifícia Univesdidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Programa de Estudos
Pós-Graduados em Economia Política. Departamento de Economia. Grupo de
Pesquisas sobre Desenvolvimento Econômico e Política Econômica, Ano I, n.1 –
Março 2016.
IBGE – INSTITUTO NACIONAL DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas Sistema Nacional de Índices de Preços ao
Consumidor: séries históricas.
Disponível em <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/precos/inpc_ipca/defaultseriesHist.shtm>. Acesso em 20/5/2016.
ORGANIZAÇÃO
PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO – OCDE. OECD.Stat: key short-term
economic indicators. Disponível em <http://stats.oecd.org/index.aspx?DatasetCode=KEI>. Acesso em 24/03/2016.
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