Abas/ guias

4 de mar. de 2012

Em busca de um fio para cortar

Que a tecnologia caminha junto à evolução humana, isso não há muito como negar. Basta pensar na transição do período Pré-Histórico – entre a era Paleolítica, a chamada Idade da Pedra Lascada, de 2,5 milhões a.C. a cerca de 10.000 a.C, e a Neolítica, Idade da Pedra Polida, de 10.000 a.C. a 3.000 a.C. – para perceber que nesse período o domínio do fogo e de técnicas de metalurgia permitiram ao homem criar objetos de metais, tais como lanças, ferramentas e machados, levando-o a caçar melhor e produzir coisas com mais qualidade e rapidez. 

Mas a tecnologia leva também ao progresso da sociedade? Para pensar em progresso associado à tecnologia é preciso tomar mais cuidado para se afirmar que sim, ou que não, é algo diferente, dado que o progresso está atrelado ao conceito de desenvolvimento, e este por sua vez está ligado a fatores como qualidade de vida, bem-estar social e não apenas ao crescimento, ao ganho de velocidade e à minimização dos esforços e recursos aplicados em uma dada tarefa. 
 
Autoria desconhecida
Levando em conta que o conceito de tecnologia está diretamente atrelada à aplicação de conhecimentos e métodos científicos à produção em geral, desde uma simples colher de madeira, até uma moderna estação espacial, aparentemente a tecnologia não deveria estar de modo algum desassociada da condição de progresso humano, uma vez que contribui de forma clara com o aperfeiçoamento dos métodos e técnicas utilizados na sociedade, permitindo ganho de agilidade, redução de custos e maximização da produtividade.

Ao longo do século XVIII, justamente no período decorrente da Revolução Industrial Inglesa (1776), a sociedade da época se percebeu ante um novo paradigma marcado pela invasão tecnológica. Decorrente de inovações do período, tais como a máquina a vapor e o tear mecânico, trabalhadores braçais se viram cercados por técnicas que aumentavam extraordinariamente a produtividade marginal do trabalho humano. Dessa maneira eles foram destituídos dos seus meios de produção, perderam seus postos de trabalho e passaram a enfrentar uma grande onda de contradição social e que se estende até os dias de hoje.

Ao indagar, porém, os avanços tecnológicos surgidos no século XXI após a popularização da internet, principalmente dos modernos aparelhos celulares (smartphones) que facilitam a interação em redes sociais e dos quais uma grande parte da sociedade vem se apoderando, na suas maiorias jovens das mais diversas camadas sociais, a pergunta sobre os seus reflexos para o progresso da sociedade deve ser refeita.

Não há dúvidas de que essa tecnologia tem facilitado a troca de informações entre as pessoas em um ambiente dinâmico como o dos grandes centros urbanos, onde elas têm tido cada vez mais dificuldade de se encontrar e locomover, permitindo que permaneçam em contato, nem que isso tenha que ocorrer através do ambiente virtual. Apesar do ganho de velocidade, da facilidade em se comunicar com amigos distantes, e até mesmo dos benefícios colhidos em algumas regiões do mundo, como no Haiti, onde o programa de transferência de dinheiro via celular tem ajudado na reconstrução do país (vide recente matéria do PNUD), outros aspectos, como o aumento da impessoalidade, a perda da qualidade das relações e deturpação dos valores humanos também precisam ser considerados.

Ao passo que uma pessoa lhe convida para participar do seu aniversário, ou outro evento qualquer, única e exclusivamente pelo facebook, o prazer de uma boa conversa cede espaço a impessoalidade virtual, e ao distanciamento humano, para o qual o convidado torna-se apenas mais um número, uma cabeça de gado qualquer entre vários outras, desprovida de sentimentos e emoções, servindo apenas para somar no seu rebanho.

A qualidade das relações humanas nas redes sociais, nesses casos, começa a ser suprimida. Os agentes envolvidos não trocam mais experiências satisfazendo-se pela troca de ideias superficiais e pouco exploratórias. O indivíduo deixa de se interessar pelo outro e passa a se concentrar no seu próprio eixo, adotando valores individualistas e já corrompidos que corroem ainda mais o interesse pelo coletivo, ou seja, pela sua própria rede social. Seu Iphone começa a ser sua principal fonte de preocupação.

Todo cuidado é pouco. É preciso indar para não se deixar levar. As tecnologias remotas propiciam facilidades das mais diversas possíveis, não há dúvidas. Não há como se esquecer, contudo, dos prejuízos que ela pode trazer para a qualidade nas relações humanas. A quantidade de informação e contra-informação tem deixado as pessoas cansadas, quando não adoecidas. Se a participação nas redes sociais tecnológicas traz tantos benefícios, tão importante também é desconectar, buscando sempre um fio a cortar, se é que isso de fato pode rolar!
Abs

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