CANO, W. Soberania e Política Econômica na América Latina.
UNESP/Unicamp-Economia, São Paulo/Campinas, 2000. Cap. 1.
Compreender o
processo de inserção e evolução das economias periféricas no sistema capitalista,
com destaque à relação dos países latino americanos e as economias
desenvolvidas centrais em um período conturbado e repleto de crises
conjunturais como o século XX é uma tarefa que requer uma análise cuidadosa,
tal qual foi feita por Cano no primeiro capítulo dessa obra. Com o objetivo de
discutir os acontecimentos que marcaram os interesses regionais e o conflito
com o panorama macroeconômico da época, o autor subdivide o período em três
etapas, cada uma das quais correspondentes ao grau de soberania nacional
conquistado pelo conjunto de países inseridos nessa região periférica.
A primeira etapa,
considerada entre os anos 1929 e 1979, correspondeu, segundo o autor, ao
momento em que os países da periferia latino-americana, inicialmente prejudicados
com a fuga dos capitais forâneos aplicados na América Latina e com a ruptura do
padrão de acumulação (agro-exportador), adquiriram grau de soberania nacional
"no exercício e no manejo da política econômica de 'desenvolvimento'"
com vista à montagem de parques industriais. Trata-se, contudo, de um período
em que, apesar das inúmeras tentativas de imposição das políticas imperialistas
impostas pelos EUA, economia hegemônica à época, como patrocínio a regimes
ditatoriais e golpes militares que serviam a seu interesse, os governos
intervencionistas dos países latino-americanos puderam, em maior ou menos grau,
explorar as brechas com vistas ao planejamento e crescimento da região.
Para consolidar suas indústrias leve, logo após a
Segunda Guerra Mundial, e pesada, durante o II PND, os países mais
industrializados da periferia adotaram uma série de medidas macro prudenciais
em direção aos seus interesses, tais como administração do câmbio, priorização
de importações, readequação tarifária sobre a produção interna e, sobretudo, um
virtuoso processo de expansão monetária via endividamento externo que, logo nas
décadas seguintes, 1980 e 1990, correspondentes às segunda e terceira etapas do
período selecionado, implicaram em volumosos déficits nos seus balanços de pagamentos,
levando-os a abrir mão da sua soberania para, então, subordinarem-se às
políticas neoliberais impostas pelo ideário norte-americano, como ruptura dos
monopólio públicos, privatizações, abertura comercial, corte de gastos públicos
correntes e desregulamentações aos capitais internacionais.
Para que mais tais reformas foram feitas, se não para minar
a autonomia dessa região em detrimento dos interesses do grande capital
internacional, sob a forma de Empresas Transnacionais (ETs), que viram na globalização,
comercial, produtiva e financeira, a condição necessária para a reprodução ampliada
e centralização do seu capital?
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