CANO, W. Crise de 1929, Soberania na Política Econômica e
Industrialização. IN: CANO, W. Ensaios sobre a formação econômica regional
do Brasil. Ed. Unicamp, 2002.
De que o crack
da bolsa de Nova York em 1929 foi importante para impulsionar o processo de
industrialização nos países da América Latina não resta dúvida, a contar do
registro de inúmeros trabalhos feitos pela CEPAL sobre o assunto, inclusive ao
incorporar às análises feitas não apenas esta crise, mas também ao
seqüenciamento de outros "choques adversos externos" que igualmente
contribuíram com a expansão desse processo. Insuficiente para explicar o
desenvolvimento da indústria entre as décadas de 1930 e 1970, porém, escapou a
tal teoria, como demonstra Cano nesse artigo, a incorporação e a análise sobre
a importância dos fatores "endógenos", através do papel indutor dos
Estados Nacionais, necessários não apenas para romper com o antigo padrão de
acumulação capitalista (primário-exportador), mas principalmente para
possibilitar a acumulação e reprodução do capital que possibilitara o
desenvolvimento da industrialização, em diferentes medida, nos países latino-americanos.
O autor em momento
algum nega a importância dessas crises para o desenvolvimento da indústria na
região. Pelo contrário, atribui a cada uma delas, relacionadas ao período
considerado, a possibilidade de aumento do grau de liberdade em termos externos
para cada um desses países, em maior ou menor grau, em relação às suas decisões
de política econômica, diretamente contrária ao desejo e interesses
"imperialistas" inglês e norte-americano, que por sua vez estavam
voltados à manutenção do antigo padrão de acumulação daqueles países, como
forma de evitar a possibilidade da reprodução regional do excedente gerado pela
demanda interna, bem como a defesa dos seus interesses econômicos.
Esta "luta
pela industrialização na América Latina", notadamente no caso brasileiro,
consistiu em uma série de mecanismos anticíclicos adotados pelo Governo a
partir de 1931, posteriormente consideradas keynesianas – tais como impostos sobre
novas plantações e exportações das sacas de café, queima dos estoques desse
produto para sustentação do seu preço, desvalorizações cambiais, aumento do déficit
público, rebaixamento dos salários nominais e restrição das importações – todos
necessários à manutenção do nível de renda interna e sem os quais não seria
possível o "deslocamento do centro dinâmico" da economia nacional.
Para o autor são fundamentalmente
essas condições, largamente associadas às "brechas" oferecidas pelo
imperialismo durante os "estrangulamentos" externos, as que possibilitaram
com que a indústria se tornasse o principal determinante do nível de atividade nos
países latino- americanos (os mais avançados já na década de 1930 e os menos a
partir de 1950), ao passo que a determinância das exportações para acumulação
do capital passara ao segundo plano. Trata-se, finalmente, do início do chamado
"processo de industrialização" ocorrido nesses países.
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