MACARINI, José Pedro.
A Política Econômica do Governo Costa e Silva. Revista Economia Contemporânea.
Rio de janeiro, 10 (3): 453-489, set./dez. 2006.
Embora a aplicação das políticas monetária, fiscal e
salarial restritivas durante o Plano de Ação Econômica do Governo, o PAEG (1964
– 1966), através do seu diagnóstico ortodoxo da inflação de demanda, tenha alcançado
progressiva aproximação das metas operacionais no combate à inflação e estabilização
de preços, o país se viu mergulhado em meio à recessão e desemprego, traduzindo-se,
dessa forma, em seu fracasso aos olhos do regime e na decisão de reorientar a
política econômica pela administração empossada com Costa e Silva (1967 – 1969).
Para Macarini, o período é "inequivocadamente
marcado pela heterodoxia na condução da política econômica", porém, com
grande dose de inflexão e descontinuidades, a partir da mudança da conjuntura
política assinada pelo AI-5, em 1969, último ano do governo Costa e Silva, que "sugerem
antes um grau de incerteza", quando o país foi "palco de um novo
experimento ortodoxo de combate à inflação", sob o comando do ministro da Fazenda,
Delfim Netto, que também permaneceria no cargo durante todo o governo Médici
(1970 – 1973).
O autor conta que no início de 1967, Delfim Netto indaga
o curso tomado pela política econômica durante o PAEG, principalmente no que
diz respeito ao rígido controle da demanda, às reduções periódicas do nível de
atividade, bem como à tentativa de eliminação da inflação dentro de limites
razoáveis com a plena utilização dos fatores e retomada do desenvolvimento. As
indagações de Delfim conduziram à rejeição do diagnóstico de inflação de
demanda formulado pelo PAEG. Pelo diagnóstico delfiniano, a natureza da inflação
mantinha sua característica principal no aumento de preços acompanhado de níveis
elevados de capacidade ociosa.
O contraste com a ortodoxia do PAEG se revelou, em primeiro
lugar, com a mudança da política fiscal, que conduziu ao novo objetivo de
induzir à reativação da economia. As principais medidas adotadas nesse campo
foram a renúncia fiscal, o alongamento dos prazos de pagamento do IPI pelas
empresas e a tolerância ao desequilíbrio orçamentário. A política monetária baseou-se
na expansão vigorosa da oferta de moeda e crédito, principalmente para o setor agrícola,
que encontrava-se deprimido, e para o consumidor direto, atraído com a retomada
da produção dos bens de consumo duráveis e, também, à tendência de redução da
taxa de juros. Neste mesmo sentido, a política cambial estimulou às exportações,
através da isenção de impostos e do regime de minidesvalorizações cambiais.
Apesar da melhoria e do desempenho extremamente satisfatório
da economia brasileira no período, com a indústria desfrutando de excelente performance,
com crescimento aproximando-se de 14% a.a. e elevação dos níveis de emprego
industrial, o cenário ainda era de incerteza nos rumos da economia. E como a
percepção do "milagre" ainda não tinha ocorrido, a influência do AI-5
abandonou as grandes linhas da política econômica no biênio 1967 – 1968,
invertendo o rumo da política econômica no último ano do governo Costa e Silva.
De heterodoxamente expansiva e com perseguição à estabilização do crescimento
econômico, a política econômica ganhou traços explicitamente restritivos, com o
propósito de impor substancial redução à taxa de inflação, em busca a
estabilização monetária. Para Delfim, "a uma taxa inflacionária menor tem
correspondido um crescimento maior e mais constante".
Com o objetivo de apontar um "golpe mortal" contra
a inflação, segundo o ministro do Planejamento Hélio Beltrão, sem deixar de
elevar a taxa de crescimento do PIB, o Programa Estratégico do Governo Federal resgatou
a mesma ortodoxia praticada no PAEG. Pelo lado fiscal, a nova política praticou
a contenção do déficit orçamentário, sem deixar de gerar, com isso, estímulo ao
segmento empresarial. As medidas concentraram-se na proibição do ingresso de
pessoal na Administração Pública, redução dos gastos com projetos do Ministério
do Interior e redução à metade do Fundo de Participação dos Estados e Municípios,
para 10% das receitas da União, estes dois últimos com grande implicação na piora
da distribuição de renda aos estados das Regiões Norte, Nordeste e Centro Oeste.
No campo monetário, ainda que a política não se
dispusesse a implementar um choque, foi perseguida a disciplina no sentido da
redução dos meios de pagamento e crédito "a limites compatíveis com as
necessidades reais da economia e do nível de preços estimado", ao mesmo
tempo que em que era reduzido o depósito compulsório dos bancos e os prazos de
pagamento dos bancos comerciais entre outras medidas para o favorecimento das
exportações.
Antes mesmo de retratar o caráter heterodoxo e ortodoxo das
políticas econômicas implementadas no período abordado, Macarini chama à atenção
ao caráter eminentemente político da conjuntura econômica, cujo objetivo era
promover a mediação dos interesses sociais das classes dominantes. A descoberta
oficial do "milagre" ocorreu no governo Médici, expresso no projeto
Brasil Grande Potência.
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