Quais
são os fatores que permitem a um indivíduo ter melhor rendimento físico que
outro? Segundo cientistas entrevistados pelo Jornal Globo Esporte, em 2012, o
diferencial reside na estrutura do DNA humano, especialmente no que diz
respeito aos cerca de 300 dos 30 mil genes humanos que têm associação direta
com o desempenho esportivo. Tais genes levam, por exemplo, à respostas relacionadas
ao bombeamento de sangue durante a atividade física, ou tipo de musculatura que
será desenvolvida em uma prática esportiva.
Para Rodrigo Gonçalves
Dias, pesquisador do Instituto do Coração de São Paulo, “um atleta de elite não
consegue chegar ao topo [do esporte] se ele não tiver uma bagagem genética
extremamente favorável”. Bastaria neste caso que fosse mapeado o DNA de grandes
atletas para identificar qual o tipo perfeito de DNA relacionado a cada
modalidade, oferecendo indícios sobre qual modalidade cada novo indivíduo teria
mais aptidão a praticar ao longo de sua vida. Mas será só isso?
Segundo
outra reportagem da Revista Veja feita em 2013 sobre o assunto, o melhor rendimento
físico não decorre apenas da existência de determinados genes a ele associados,
mas dos próprios hábitos de vida de uma pessoa, como a prática diária de
atividades físicas, que pode alterar a pré-disposição de certos genes, por
exemplo, em acumular mais ou menos gordura no corpo. Tal fato levou à
contestação da ideia de que os genes, por si só, respondiam pelos segredos da
vida, a exemplo da determinação pela aptidão física de uma pessoa e sua ligação
com o esporte.
Tais
argumentos consistem da epigenética, área que estuda as “mudanças hereditárias
na expressão gênica que independem de mudanças na sequência primária do DNA”
(MOLOGNONI, online), ou ainda, “aquilo
que está acima da genética” (SCIENCE NORDIC, online). Para a epigenética, o DNA humano é realmente responsável
por ditar alguns comportamentos e características físicas do corpo, como a cor
da pele, tipo de cabelo ou cor dos olhos. Contudo, aponta que o DNA não é um
manual perfeito para explicar alguns fenômenos humanos, como se imaginava, já
que alguns genes, os chamados epigenes, podem ser modificados de forma branda pelo
modo e hábitos de vida adotados por seres-humanos.
Os epigenes podem ser diretamente
afetados, assim, por reações químicas associadas à determinados hábitos de
vida, que os ativam ou desativam, ajustando o quão forte ou fraca será a
expressão desses genes. Para Miriam Galvonas Jasiulionis, pesquisadora do Departamento
de farmacologia da Universidade Paulista de Medicina (Unifesp), “os epigenes
permitem que o genoma converse com o meio ambiente” (JASIULIONIS, online), derivando daí que o fenótipo
humano decorre do epigenótipo, isto é, do genótipo modificado por marcas
epigênicas ligadas a fatores do meio. Em teoria, “isto significa que pode
existir um par idêntico de clones com o mesmo DNA, mas que podem agir de forma
muito diferente um do outro” (SCIENCE NORDIC, online).
Os estudos de epigenética
reabriram, dessa forma, a discussão iniciada no século XIX que contrapões as
ideias de Jean Baptiste Lamarck (1744-1829) e Charles Darwin (1809-1882) sobre a
teorias da evolução das espécies. Segundo Lamarck, a progressão dos organismos
dependia do meio ambiente, fazendo com que eles se adaptem para conseguir sobreviver. Já Darwin considerava
que organismos mais bem adaptados ao meio ambiente tinham maiores
chances de sobreviver, levando a uma melhor adaptação dos seus descendentes ao
meio que viviam. Apesar da aceitação das ideias de Darwin até os dias de
hoje, os estudos de epigenética comprovaram que as ideias de Lamarck também
estavam corretas, já que os hábitos do dia a dia modificam a ação de alguns genes
no organismo, os chamados epigenes.
Para a pesquisadora da
Faculdade de Medicina da Universidade de Oslo, Ellen Wikenius, “a epigenética
nos traz esperança, porque oferece um olhar além do ponto de vista determinista
de que ‘estes são seus genes, então, é isto que você se tornará’”. A
pesquisadora considera, contudo, que embora se saiba que certos genes humanos possam
ser ativados ou desativados, por exemplo, através do carinho oferecido ou não
pela mãe ao seu filho, ou pelo som que um feto escuta desde a barriga da sua
mãe, ainda há muitos pontos desconhecidos na área da epigenética para que seu o conhecimento seja levado ao tratamento de determinadas doenças para saúde
humana. Será que algum dia a epigenética terá capacidade de identificar como atletas
sem pré-disposição gênica podem se tornar campeões?
Bibliografia:
ESPORTE ESPETACULAR. Pesquisa genética busca aumentar o desempenho dos atletas (vídeo).
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=0-ujrPppN3o&app=desktop>.
Acesso em 03/04/2016.
JASIULIONIS,
Miriam Galvonas. Epigenetics. Simpósio
Internacional Integração Corpo-Mente-Meio. Escola Paulista de Medicina –
UNIFESP. Disponível em <http://www.fapesp.br/eventos/2013/03/CMM/Jasiulionis.pdf>.
Acesso em 03/04/2016.
MOLOGNONI, Fernanda. Epigenética. Escola
Paulista de Medicina – UNIFESP.
Disponível em <http://www.ime.usp.br/posbioinfo/cv2012/epigenetica_FernandaMolognoni.pdf>.
Acesso em 03/04/2016.
SCIENCE NORDIC. What exactely is epigenetics? Disponível em <http://sciencenordic.com/video-what-exactly-epigenetics>.
Acesso em 03/04/2016.
SÓ BIOLOGIA. A
teoria de Darwin. Disponível em <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Seresvivos/Ciencias/bioselecaonatural2.php>.
Acesso em 03/04/2016.
__________________. As ideias de Lamarck. Disponível em <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Evolucao/evolucao14.php>.
Acesso em 03/04/2016.
VEJAPONTOCOM.
Genética dos genes (vídeo). Disponível
em <https://www.youtube.com/watch?v=F8UuqLL-2FU>.
Acesso em 03/04/2016.