FURTADO, C. O Mito do Desenvolvimento Econômico. Paz e Terra,
Rio de janeiro, 1974.
Não por acaso, o padrão de desenvolvimento econômico que
conhecemos e que predomina ainda hoje no mundo capitalista teve suas raízes na
segunda fase da Revolução Industrial. Intensificada na Grã-Bretanha após a
segunda metade do século XIX, quando o processo de acumulação de capital e o
fluxo do comércio internacional de mercadorias expandiram-se com base na
estrutura dos novos modelos econômicos vigentes, aos blocos das economias que
lideraram o processo de industrialização e que formavam os sistemas econômicos
nacionais atribuiu-se, como afirmou Furtado nessa obra, a responsabilidade
por promover “a implantação de um sistema de divisão internacional do trabalho
que marcaria definitivamente a evolução do capitalismo mundial”.
O interesse das potências econômicas centrais em manter
esse mesmo padrão como meio de acumular e reproduzir sobremaneira o excedente
de capitais acumulados em seus países de origem tornou-se, dessa maneira, um
grande entrave para que fosse possível replicar, como acham possíveis muitos
economistas e cientistas sociais, o modo de vida existente nessas sociedades às
periféricas, das quais se beneficiam apenas um pequeno percentual da sociedade
ligada às burocracias que as controlam. Paradigma rechaçado por Furtado, o autor
defende que tal possibilidade não passa de um mito se pensada as economias
subdesenvolvidas na sua totalidade, o mito do desenvolvimento econômico,
expressão que deu origem ao título da obra.
Diametralmente oposto de um modelo orientado pelos
Estados nacionais “em função dos objetivos sociais coerentes e compatíveis com
a acumulação”, os países subdesenvolvidos foram prejudicados com sua própria
falta de articulação em torno de um “projeto nacional” autônomo, bem como
levados a replicar o caráter predatório de civilização concebido pelos padrões
de consumo das economias desenvolvidas. O baixo grau de acumulação de capital
em suas regiões e de acesso aos bens finais característicos do estilo de vida
moderno levou as economias subdesenvolvidas a sofrerem importantes atrasos
qualitativos em relação ao seu processo de industrialização, abrindo espaço
para que as grandes empresas transnacionais assumissem notoriedade na
orientação da política industrial dessas mesmas economias, a partir dos anos 1960,
com a formação do mercado internacional de capitais.
Com grande capacidade financeira e de escala de
produção, essas firmas deram origem a conglomerados internacionais
oligopolistas nos mais distintos setores da economia, em nos quais o valor
incorporado às mercadorias produzidas tem provocado a degradação do mundo
físico e levado, mesmo com a evolução do progresso tecnológico, a danos irreversíveis
ao planeta no longo prazo.
Seria outro mito considerarmos o desenvolvimento
econômico dos povos pobres sem que fosse necessariamente levado em conta a
similitude em relação às formas de vida dos países ricos?
Nenhum comentário:
Postar um comentário