OLIVEIRA, F. Crítica à razão dualista. O ornitorrinco. Boitempo,
São Paulo, 2003.
Não restam dúvidas
de que o tratamento sobre a questão do subdesenvolvimento não esgota-se no "economicismo"
imperante na tese dual-estruturalista inspirada no "modelo Cepal",
para o qual o "modo de produção subdesenvolvido" é constituído em
torno da oposição formal de um setor periférico "atrasado" e um setor
central "moderno", sem que se considere a real "simbiose" que
existe entre eles, através da relação de "dependência" levada pelos
interesses de determinadas classes sociais presentes nas economias periféricas,
como no caso do Brasil e América Latina, e dos interesses dos grupos sociais do
centro.
A leitura dessa obra prima de Chico de Oliveira
evidencia que desde o pós-anos 1930, que marcaram o novo modelo de acumulação capitalista
no Brasil e mesmo durante todo o período da industrialização ocorrido no país até
a década de 1970, ainda regida por um governo militar autoritário, a teoria do
desenvolvimento em voga nada mais fez do que criar as bases, através de uma série
de medidas de caráter "desenvolvimentista", para aumentar
continuamente a acumulação do capital, em detrimento da resolução dos
verdadeiros problemas sociais que se intensificaram no país.
Entre os aspectos que desempenharam enorme significado
para consolidar as novas regras que iriam operar o novo modelo de acumulação "urbano-industrial"
e este, "voltado para dentro", o autor destaca a regulamentação das
Leis Trabalhistas, o intervencionismo estatal e o papel da agricultura de
subsistência. Ao contrário do que a ingenuidade coletiva se fez pensar, de que
teriam sido tais elementos adotados para garantir qualidade de vida à sociedade,
torna-se evidente que todos eles contribuíram, na verdade, com objetivos em
nada igualitários ou planificadores, se não que no interesse das elites em "não
obstaculizar" o novo modo de produção. Em acréscimo, o setor Terciário,
longe de representar um "inchaço" que obstaculizaria a expansão
capitalista, surgiu como um forma de manutenção e incremento para favorecer a
questão urbano-industrial.
Tornou-se fundamental formar um "exército
industrial de reserva" alimentado pela população que afluía às cidades em
busca de garantias trabalhistas, cujo rebaixamento dos salários médios era, e
ainda é, ainda assim, tanto maior do que a expropriação do excedente produzido
na terra, o qual permite a aquisição de bens básicos a preços baixos à classe
trabalhadora, sobretudo alimentos, que formavam o custo de reprodução da força de
trabalho e que, em última instância, prova ser a integração dialética entre
agricultura atrasada e indústria moderna de fundamental importância para
sustentação do sistema.
Sem que tenham
sidos levados em conta aspectos estruturais (sociais e políticos), o
subdesenvolvimento trata da evolução de uma produção de dependência aos padrões
da divisão internacional do trabalho capitalista e dos interesses internos das
elites presentes no poder. A reforma agrária seria mesmo, portanto, a única
forma de tornar o primata quase Homo Sapiens, o ornitorrinco, um ser
mais desenvolvido, ainda que nos moldes do sistema de acumulação capitalista?
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