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30 de jul. de 2012

O debate sobre economia regional: um breve resumo (parte 1)

A economia espacial é um dos ramos mais recentes das ciências sociais e tem sido objeto de ampla discussão, com enfoques diferenciados no que se refere ao estudo das variáveis tradicionais estudadas nas ciências econômicas, que se limitam à investigação de teorias do equilíbrio geral das funções de oferta e demanda, dos coeficientes constantes e dos custos de transporte lineares.

O debate remonta a "ciência regional" (regional science), disciplina que se consolida no momento do pós II Guerra Mundial, quando a preocupação com os problemas da gestão do espaço tomam maior consciência na sociedade, tornando-se referência na análise das políticas de ordenemanto territorial, com vistas à constituição de sociedades mais justas e prósperas sobre os destroços da guerra.


O que vem a ser ciência regional?
Segundo essa vertente, a ciência regional (ou economia espacial) é uma disciplina multidisciplinar que incorpora variáveis de diferentes campos da investigação social e dedicam-se a responder os questionamentos sobre as desigualdades e desequilíbrios espaciais presentes a partir da intervenção humana no território.

O problema a que se propõe a investigação da ciência regional é justamente o de que não existe homogeneidade espacial, em detrimento da análise dos agentes em espaços como pontos dados. Sua investigação é resultado, ao contrário, da análise dos objetivos e interesses dos grupos dispersos em diferentes pontos e com características distintas no espaço. A ciência regional introduziu a noção do espaço às teorias existentes obrigando-as a ultrapassar suas simples generalizações ao considerar e incluir novos parâmetros em jogo.


As novas funções da variável espacial
A associação da variável espacial a esta formulação eclodiu em uma nova tônica à análise econômica. O espaço passou a ser visto como um reflexo territorial das relações de produção na sociedade, ou seja, um lugar, com características, legados e valores específicos, em detrimento das teorias clássicas da localização ótima das atividades econômicas, ou modelos locacionais, como uma barreira em distância a ser percorrida, que incorria no incremento do custo adicional de transporte ao preço das mercadorias.

Nas décadas de 1950 e 1960 os estudos desdobraram-se sobre as perspectivas das políticas de ordenamento e crescimento urbano e regional de vanguarda francesa, com destaque à teoria dos "pólos de crescimento" de F. Perroux. As preocupações com a natureza e com o meio ambiente no pensamento espacial só foram admitidas a partir dos anos 1970, com evidência à conferência de Estocolmo, que alertava sobre a problemática entre crescimento econômico e preservação ambiental.


Espaço como ente social
O espaço levou tamanha significância à análise das relações de produção num dado território, de caráter social, que novas abordagens conceituais elevaram a importância sobre a interpretação desse objeto, considerado "essencialmente um ente social". De mero receptáculo das relações humanas no território a produto social, o espaço tornou-se predeterminante para o estudo da componente trabalho social.

A interação homem-meio – na qual o meio natural é transformado em meio de subsistência – precede, por sua vez, a relação homem-homem – esta segunda, resultado de uma transformação mais complexa do meio natural em produtos, o que transcende a condição de trabalho individual ao trabalho social. Tanto a relação homem-meio, como a relação homem-homem – sem que se pese a dicotomia entre suas abordagens – são, no entanto, igualmente responsáveis por transformar e determinar a formação econômico-social existente em um território ao longo do tempo sendo considerada, também, como "reflexo" das relações de produção e luta de classes entre as forças produtivas ali presentes.


Abordagens recentes
Nas últimas duas décadas, os trabalhos de Paul Krugman sobre o desenvolvimento das regiões têm influenciado o pensamento regional, através de um modelo econômico que relacionou a interação econômica de grupos sociais e o desenvolvimento das regiões. Também têm sido vastas as publicações acerca dos distritos industriais, que se apóiam nas antigas instituições de Marshall, com destaque às aglomerações tecnológicas do Silicon Valley, de pequenas e médias empresas (PMEs) da "Terceira Itália", dos serviços financeiros localizadas nas metrópoles, além, mais recentemente, dos pólos tecnológicos, das redes e da governança.

A abordagem desse post terá continuidade com os outros três que serão publicados nesse mesmo espaço, a respeito das evidências sobre os desequilíbrios sócio-espaciais no Brasil na atualidade. A análise não se dará a partir do entendimento quanto às estruturas locacionais que resultaram da concentração industrial no país. Ao contrário, sua compreensão será possível através da ótica das relações de produção e do padrão da divisão do trabalho gerados ao longo de toda a história do país e nas diversas partes do seu território.

Abraços,

Rodrigo 

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