CANO, W. América Latina: notas sobre a crise mundial. Rev.
Economia e Sociedade, v. 18, n. 3, (37), 12/2009.
A "Crise de 1929" e a iniciada em 2008
apresentam características semelhantes e outras muito distintas. As duas
afetaram fortemente a América Latina, mas a primeira reforçou o movimento de
transição das estruturas econômicas, políticas e sociais que levou
posteriormente à "ruptura com o passado", alterando o padrão de
acumulação e instaurando o processo de industrialização e urbanização. Já a
iniciada em 2008 não pôde utilizar as forças dinâmicas que possibilitariam tal
ruptura.
Segundo Wilson Cano, uma das principais lições da
"Crise de 1929" é que a presença do Estado é indispensável, pelo
menos nas crises. Na época, a maioria dos economistas continuou a crer na
prevalência do equilíbrio do mercado e no alcance automático do pleno emprego, não
se dando conta de alguns sinais de advertência, de modo que a imposição da
visão liberal neoclássica retardou a tomada de decisões para o combate à crise.
As reações nacionais foram diversas, demoradas e em muitos casos tímidas ou
equivocadas. Alguns países, liderados pela França, reagiram tardiamente
tentando recuperar o Padrão Ouro e só mais tarde introduziram políticas
anticíclicas. As reações da América Latina foram diversas. Brasil, Argentina,
México, Chile e Colômbia reagiram mais rapidamente e mudaram radicalmente a
condução política e econômica: abandonaram o padrão-ouro e o regime
de câmbio livre, instituindo fortes controles cambiais, elevando tarifas,
desvalorizando o câmbio e praticando moratórias da dívida externa. Tais países
deram início à construção de um estado intervencionista e a uma embrionária
política de desenvolvimento que os levou a avançar, por fim, nos processos de
industrialização e urbanização implementados em suas regiões.
Já a crise iniciada em 2008 ocorreu num período em que
globalização financeira atingiu elevados patamares e, juntamente com a
desregulamentação financeira, estimulou a volatilidade e a especulação dos bens
e ativos financeiros. Nesse sentido, as atuais políticas anticíclicas têm se
voltado para evitar maiores quebras do sistema financeiro e das grandes
corporações, mas não para alcançar os verdadeiros objetivos de cunho social,
como a diminuição do desemprego. Assim como na de 1929, o mainstream predomina no período
atual tentando vender o peixe do equilíbrio dos mercados, da racionalidade do
capitalismo e da eficiência das livres forças de mercado. Cano diz que para que
a integração seja realizada é necessário não apenas ajustes em temos econômicos,
mas principalmente no que diz respeito às variáveis de ordem políticas. No
entanto, ainda que isso fosse feito com sucesso, os resultados dessas
ações seriam insuficientes para que o avanço da trajetória de desenvolvimento
fosse alcançado. Somente o rompimento com o modelo neoliberal e a retomada da
trajetória de industrialização levaria ao seu alcance.
O autor cita a necessidade urgente de fazer uma completa
reformulação dos aparelhos do estado; reconstruir as instituições públicas de
planejamento com vistas a formular diretrizes básicas do desenvolvimento
nacional, regional, e setorial; do controle do câmbio e dos fluxos de capitais
para o exterior; profunda reestruturação dos mecanismos de proteção tarifária e
não-tarifária; reestruturar as dívidas interna e externa para desafogar as
finanças públicas e o balanço de pagamentos; reformular diretrizes que regem
nossas instituições financeiras públicas e; profunda revisão do funcionamento
das instituições financeiras privadas para conter a especulação financeira e
alocar crédito segundo as prioridades nacionalmente estabelecidas.
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