MEDEIROS, C. A. A China como um Duplo Pólo na Economia Mundial e
a Recentralização da Economia Asiática. UFRJ-IE, mímeo, 5-2005.
Depois da crise asiática de 1997, com as exportações
desacelerando, a China decidiu autonomamente expandir os gastos públicos e os
investimentos em suas empresas estatais. Em 1995, o alto crescimento do
comércio asiático centrado nos investimentos japoneses e dos Tigres Asiáticos
nos países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) entrou em crise.
Ao mesmo tempo em que a desvalorização do yen em relação ao dólar teve forte
impacto na dinâmica regional, juntamente à contração dos Investimentos Diretos
Estrangeiros (IDE) japoneses e do declínio das suas importações, a estrutura do
financiamento externo asiático teve forte expansão nos capitais de curto prazo.
O texto de Carlos de Aguiar Medeiros salienta a
afirmação da China como um novo centro cíclico regional, característica que decorre
de fatores estruturais e da autonomia da sua economia e política macroeconômica
voltada ao crescimento econômico nacional. O controle dos fluxos de capitais e
a sólida posição do seu balanço de pagamentos permitiram à China praticar uma
política anticíclica fazendo da expansão do seu mercado interno um pólo de expansão
para a economia regional. Após uma crise de liquidez ter sacudido países como
Tailândia, Malásia, Coréia, Filipinas e Indonésia no final de 1997 – devido ao boom
de endividamento externo de curto prazo – os fluxos de IDE deslocaram-se
significativamente dos países asiáticos em direção à China.
O fato da China ter se firmado como principal mercado em
expansão para as exportações dos países da Asean e, portanto, num importador
líquido da Ásia, deve-se à combinação desta estrutura com a
excepcional taxa de crescimento de seu grande mercado interno. Assim, mesmo
deslocando outros países asiáticos produtores de bens de consumo de terceiros
mercados, a expansão do seu mercado interno leva a um grande crescimento do
volume das exportações provenientes dos mercados japonês e coreano, dinamizados
pela produção de máquinas e equipamentos.
Desde 1994, o governo chinês mantém fixa a taxa nominal
de câmbio do yuan com o dólar (8.3 yuan= $ 1). A busca de uma taxa
de câmbio nominal estável e favorável às exportações é traço essencial das
trajetórias bem sucedidas das industrializações do leste asiático que a China
procurou reproduzir. A preservação da estabilidade nominal do yuan, ao mesmo
tempo em que mantém a expansão do seu mercado interno, tem sido uma estratégia
centrada nas prioridades nacionais e voltada a ampliar as relações de comércio
e investimento da China na Ásia.
Graças à manutenção do extraordinário crescimento
econômico e da estabilidade do yuan a China se afirmou como exportador líquido
para os EUA e ao Japão, transformando-se também num importador líquido para a
Ásia. Essa mudança no comércio regional começou a alterar a dinâmica do
crescimento asiático centrada nos EUA como mercado final e fez da China uma
máquina de crescimento regional e de sua estabilização.
Desde a formação da China moderna em 1949, o ciclo
econômico chinês vem sendo governado em ritmo de crescimento dos investimentos
em capital fixo das empresas estatais e as restrições decorrentes de choques
exógenos, desequilíbrios setoriais, em particular, os preços dos alimentos, e
as restrições do balanço de pagamentos. Nos anos 90, mesmo com o declínio da participação das
empresas estatais no investimento global, o volume dos investimentos estatais
no PIB manteve-se num patamar estruturalmente alto, correspondendo à nítida
postura anticíclica com que o país vem intervindo em sua economia.