Ser feliz é tudo o que grande parte das pessoas deseja na vida. Não importa se acompanhada ou não de grandes quantias em riqueza material, o indivíduo contemporâneo quer mesmo desfrutar de satisfação de liberdade e prazer intenso. Ao mesmo tempo, o processo de produção predominante capitalista tem sido questionado quanto sua eficiência em garantir tais sensações passando a ser desafiado a apresentar índices de monitoramento da felicidade social que permitam análises mais precisas para o seu propósito do que o PIB (Produto Interno Bruto), que tem como finalidade medir o desempenho da atividade econômica de um país.
A discussão sobre o tema tem-se tornado calorosa. No último dia 26/11/10 a Folha de São Paulo noticiou "Reino Unido que criar índice de felicidade para medir grau de satisfação do seu povo". Segundo a nota, uma consulta pública acaba de ser lançada para definir o que as pessoas dirão sobre o que é importante para que elas sejam felizes. "Uma vez definida a metodologia, a intenção é ter um índice trimestral, a ser divulgado junto com o crescimento do PIB (...) [que identificará] se o britânico está mais rico ou pobre, mas também se está mais ou menos feliz. E até que ponto um dado influencia o outro".
Um cuidado deve ser tomado. Essa busca permanente pelo estado de alegria acaba por renegar uma grande gama de outros efeitos sentidos pelo homem – como a sua tristeza, sua ansiedade e o seu nervosismo – sem os quais a felicidade talvez não pudesse ser apreciada em momentos memoráveis e especiais. Se levada a cabo incessantemente sem a preocupação de receber junto a ela tantas outras sensações que chegam dentro de um mesmo pacote sensorial (lista de emoções), ou seja, se o indivíduo não alcançar sua paz interna sabendo separar o joio do trigo, a ilusão da emoção desmedida poderá levá-lo a um estado de frustração permanente, como lembra poeta Carlos Drumond de Andrade em "Definitivo".
"(...)
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida
está no amor que não damos, nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do
sofrimento, perdemos também a felicidade
(...)".
Carlos Drumond de Andrade - Definitivo
Felicidade como estado de espírito - FIB
O quarto Rei Dragão do Butão, Jigme Singye Wangchuck, criador do FIB. |
A primeira referência sobre o tema remete aos anos 1970, quando o pequeno reino dos reis dragões, o Butão, no Himalaia, adotou o índice Gross National Hapiness (GNH) – Felicidade Interna Bruta (FIB). Baseado nos pilares (1) desenvolvimento socio-económico sustentável e igualitário, (2) preservação e a promoção dos valores culturais e espirituais budistas, (3) conservação do meio-ambiente natural e (4) estabelecimento de uma boa governança, o índice teria desempenho positivo, uma vez que o desenvolvimento espiritual e o desenvolvimento material ocorressem simultâneamente.
A felicidade não se resume, nessas condições, ao estado inflexível na vida da sociedade, mas a um estado de espírito que permeia o ciclo de sensações de um ser estando - em conformidade com a Filosofia - associada com o "bem-estar ou qualidade de vida e não simplesmente como uma emoção". De acordo com o artigo de Renato Nepomuceno no site oartigo.com, a receita dos filósofos para a vida feliz é aceitar os tropeços. "Até porque [os tropeços] são inevitáveis. É o maior ensinamento do filósofo Zenão, fundador do estoicismo, e seus discípulos (...) que se portam com serenidade diante do revés ou do triunfo. Nem vibra na vitória e nem se deprime na derrota".
PEC da Felicidade e a condição de bem-estar social
No Brasil, no último dia 10/11/10 foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ) a PEC da Felicidade, de autoria do senador da república e também economista Cristovam Buarque (PDT-DF), alertando o "art. 6º. da Constituição Federal a incluir o direito à busca da felicidade por cada indivíduo e pela sociedade, mediante a dotação pelo Estado e pela própria sociedade das adequadas condições de exercício desse direito", que passou a vigorar por meio do caput.
No Brasil, no último dia 10/11/10 foi aprovada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ) a PEC da Felicidade, de autoria do senador da república e também economista Cristovam Buarque (PDT-DF), alertando o "art. 6º. da Constituição Federal a incluir o direito à busca da felicidade por cada indivíduo e pela sociedade, mediante a dotação pelo Estado e pela própria sociedade das adequadas condições de exercício desse direito", que passou a vigorar por meio do caput.
- "Art. 6º. São direitos sociais, essenciais à busca da felicidade, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição". (Constituição Federal do Brasil, 2010.)
Considerada variável de órdem psicológica ligada a dado estado de espírito, a felicidade não se comporta como objeto de estudo competente e resumido ao campo da Economia podendo manter certa relação, no máximo, à chamada economia do bem-estar, que tem como ícones, entre outros, os novos desenvolvimentistas e prêmios Nobel de Economia Amartya Sen (1998) e Joseph Stiglitz (2001). Em resumo, o primeiro considera que é "a liberdade dos humanos para salvaguardarem aquilo que valorizam ainda mais importante do que apenas a possibilidade de satisfazer suas necessidades". O segundo critica a ênfase dirigida ao PIB em decorrência da destruição social: "Algumas pessoas nos países ficam mais ricas, mas o modo de vida e os valores básicos da sociedade continuam ameaçados".
Embora alguns índices de desenvolvimento social tenham sido produzidos na ótica da economica do bem-estar – como o DNA-Brasil e o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) – a maior dificuldade em medir o desenvolvimento continua a ser a natureza multidimensional e disciplinar do seu processo. Do mesmo modo que para medir o desenvolvimento, não parece caber à carga de um sintético indicador a capacidade de representar a essência do sentimento da felicidade, que nada mais é do que um dos diversos estados de espírito de ordem preponderantemente psicológica do ser. Políticas públicas permanentes e atualizadas devem, nesse sentido, tentar alcançar à condição de bem-estar social sendo a felicidade, por sua vez, uma conseqüência das emoções cotidianas que deverá, junto ao sofrimento, ser canalizada por cada indivíduo na sua particularidade.
Embora alguns índices de desenvolvimento social tenham sido produzidos na ótica da economica do bem-estar – como o DNA-Brasil e o Índice de Desenvolvimento Social (IDS) – a maior dificuldade em medir o desenvolvimento continua a ser a natureza multidimensional e disciplinar do seu processo. Do mesmo modo que para medir o desenvolvimento, não parece caber à carga de um sintético indicador a capacidade de representar a essência do sentimento da felicidade, que nada mais é do que um dos diversos estados de espírito de ordem preponderantemente psicológica do ser. Políticas públicas permanentes e atualizadas devem, nesse sentido, tentar alcançar à condição de bem-estar social sendo a felicidade, por sua vez, uma conseqüência das emoções cotidianas que deverá, junto ao sofrimento, ser canalizada por cada indivíduo na sua particularidade.
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