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2 de jun. de 2015

Para além dos limites da pobreza: a miséria em Mumbai, Índia

Vista da entrada de Dharavi

A falta de mobilidade social na Grande Mumbai, na Índia, ou Grande Bombaim, não poderia ser pior. A região conta com mais de 20 milhões de habitantes, 55% dos quais vivendo em uma das 2 mil favelas espalhadas por seus arredores. São 10 mil moradores por favela, em média, vivendo em condições de pobreza extrema, sem padrões de higiene e saúde, educação ou perspectiva, em vida.

O caso mais expressivo é, sem dúvida, Dharavi, uma das mais condensadas favelas do mundo, na qual vivem aproximadamente 1 milhão de pessoas em uma área que equivale ao tamanho de meio Central-Park, em Nova Iorque. Com apenas 700 banheiros (média de ~1.530 pessoas por banheiro, ou praticamente 1 pessoa por minuto no banheiro), limpos dia sim, dia não, o lugar não oferece as mínimas condições de higiene para os padrões de vida da sociedade contemporânea.





Em meio às qualidades mais precárias de salubridade e falta de dignidade, seus habitantes vivem em condições subhumas. A maioria trabalha de cócoras em meio à poluentes tóxicos e córregos com esgoto. No lixão a céu aberto as crianças brincam e correm felizes. E correm sem consciência de si, da sua condição e do espaço que ocupam. E todos aí são chamados intocáveis, e assim o são, invisíveis em meio a sociedade que os mantêm para além da margem, excluídos, com naturalidade.

Estima-se que exista em Dharavi mais de 10 mil “fabriquetas” de fundo de quintal dos mais variados tipos, principalmente reciclagem de plástico e alumínio, beneficiamento de couro e tecelagem de produtos da linha têxtil. Com aproximadamente 10m2, cada uma dessas fábricas comporta de cinco a seis trabalhadores que vivem e trabalham em regime de mais absoluta exploração, em condições impróprias e sujeitas a diversas formas de contaminação.




Bolsa Michael Kors produzida em Dharavi
Cada trabalhador residente em Dharavi recebe entre US$ 3 e US$ 4 por dia, sendo-lhe útil apenas para garantir sua sobrevivência em condições extremas. No campo, em um país predominantemente rural de realidade paupérrima, a situação chega a ser ainda pior. Em Dharavi, pelo contrário, a comida é obtida sem que seja preciso sair dali. E mesmo sofrendo forte abandono uma vez ao ano devido o período de fortes chuvas, entre Junho e Agosto, o PIB de Dharavi é estimado entre US$ 500 e US$ 650 milhões anuais.

Numa rápida passada de olhos, observam-se pelas ruas de Mumbai milhões de pessoas perambulando sem rumo por suas veias urbanas. Condenados, muito vivem o resto de suas vidas além dos limites da pobreza. Com tantos, em escala monumental, do bilhão, os salários são mantidos excessivamente baixos, e o circuito torna-se facilmente financiado, sem qualquer interesse a uma efetiva intervenção. A vertente lógica da situação, por sua vez, senão óbvia, revela apenas mais uma evidência explícita do grau da miséria nos valores da atual condição de existência humana, espelhada em seu mais puro ato de egoísmo social.