Abas/ guias

24 de set. de 2012

Resenha de "O IMPÉRIO JAPONÊS"

HALL, J. W. El imperio japonés. História Universal: Siglo XXI, 1986.


Aos que indagam as origens do capitalismo no Japão, certamente será possível compreender em linhas gerais, após a leitura desse texto de Hall, como foi que o país foi inserido nesse sistema, ainda durante o processo de Revolução Industrial que ocorria no Ocidente durante o século XIX. É no mínimo de se estranhar, contudo, que uma economia tão enraizada em sua cultura milenar passou, quase que de uma hora para a outra, ou, ao longo de alguns poucos anos, a aceitar um modelo econômico que quase arruinou com sua identidade local.

Com a destruição do xogunato Tokugawa em 1868 pelo imperador Meiji, o regime ditatorial feudal que foi mantido desde o século XV deu lugar a uma coalizão formada por poucas grandes unidades administrativas em substituição às centenas de bans antes existentes, com a finalidade de salvar o estado das dívidas que vinha acumulando, por meio da racionalização dos gastos do estado, além de fortalecer militarmente seu território contra o avanço das economias ocidentais interessadas em invadir e dominar seu mercado.

O processo de mudança levou adiante alguns aspectos que determinaram uma verdadeira restauração na estrutura sócio-econômica japonesa. Além de abolir os velhos costumes, por meio da simplificação da estrutura de classes sociais, a Era Meiji realizou reformas fiscais, financeiras, e também agrária, o que permitiu um grau de liberdade nunca mesmo visto por essa sociedade. Ao eliminar os privilégios da classe samurai, o Estado japonês formou um novo exército nacional através do recrutamento obrigatório dos seus habitantes, o que lhe permitiu eliminar aos poucos grande parte (1/3) da carga financeira imposta às contas nacionais.

Partindo-se da estratégia de aceitar voluntariamente as condições comerciais impostas pelo imperialismo europeu, o processo de ocidentalização da economia japonesa teve início já na década de 1970, quando tanto técnicos japoneses eram enviados ao exterior pelo imperador, como os estrangeiros trazidos ao Japão, ambos com a tarefa de levar modernização, amplitude e rapidez à economia local. Junto ao progresso também surgiram efeitos controversos advindos da influência Ocidental. No auge da restauração, o cristianismo ganhou enorme importância no Japão e, juntamente com outros hábitos ocidentais que começavam a ser adotados, por pouco não arruinou sua identidade religiosa e até mesmo cultural.  

21 de set. de 2012

Resenha de "A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA ITÁLIA"


CAFAGNA, L. La revolución industrial en Italia 1830-1914, in CIPOLLA, C. Historia Económica de Europa: primera parte. Barcelona: Ariel, v. 4, 1987.

Àqueles deslumbrados com a história da industrialização inglesa, alemã e, inclusive a americana, torna-se um pouco difícil assinalar grandes êxitos ao desenvolvimento e formação da economia capitalista italiana após a leitura desse texto de Cafgna, com exceção ao "triângulo industrial" formado pelas três regiões do noroeste – Milão, Turín e Gênova –, que entre elas pareciam formar um país quase que autônomo e desvinculado, durante praticamente todo esse período, das demais regiões do sul da Itália. Desde o início da sua industrialização, marcada originalmente por inovações tecnológicas para manuseio do seu principal produto de exportação à época, principalmente a seda, a economia italiana era composta por uma estrutura produtiva formada pela presença de pequenos empresários progressistas e empreendedores, que vinham sendo influenciados pela visão de mundo de alemães e ingleses, e uma massa de trabalhadores condicionados pelo putting out system, ou oferta de mão de obra barata recrutada nas zonas agrícolas pobres.

Sem praticamente nenhum impulso para o desenvolvimento da indústria de bens de capital, com forte razão à baixa força motriz disponível no país, a Itália se ancorou por muitos anos na dependência do seu sistema de câmbio livre para promover o desenvolvimento, já que o sistema ferroviário ali construído pouco impacto desempenhou sobre suas atividades industriais. Apenas em 1870, com o fim da Guerra Franco-Prussiana, é que investimentos começaram a ser alocados em maior quantia em outros setores que não somente o têxtil, como o ferro e a maquinaria de baixa intensidade tecnológica. Sem êxito, as décadas seguintes acompanharam a emigração ultramarina de grande contingente populacional. A Itália saiu favorecida com isso, posteriormente, devido à parte dos salários que os estrangeiros enviavam de volta a seus parentes no país e que permitiu, em meados do século XX (1885), o seu segundo grande impulso industrial. Amparada na introdução da energia hidrelétrica em substituição ao carvão, o país pôde finalmente instalar sua indústria pesada. A maior parte dos investimentos foi, porém, para produção de equipamentos de pequeno porte, com os quais a Itália se consagrou, a exemplo da máquina de escrever Olivetti, e da produção dos bens de consumo duráveis, como as bicicletas e os automóveis.

20 de set. de 2012

Resenha de "ALEMANHA: IMPÉRIO, BARBÁRIE E CAPITALISMO AVANÇADO"

BRAGA, J. C. S. Alemanha: império, barbárie e capitalismo avançado. IN FIORI, J. L. (Org.). Estados e oedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis: Vozes, 1999 p. 191-221


Neste breve artigo sobre a história do capitalismo na Alemanha, o autor resume numa linguagem simples, atual e objetiva alguns dos aspectos mais importantes que permitem compreender a evolução e o papel de destaque que a economia alemã vem exercendo no cenário geopolítico mundial desde meados do século XIII, antes mesmo do auge da sua industrialização, o que é facilitado pela divisão proposta pelo autor em três diferentes períodos fazendo, assim, juz ao títudo da obra com os mesmos nomes.

A fase denomiada de Império corresponde ao passado da industrialização alemã, momento marcado pela intensificação das ações centralizantes e a racionalizadoras do estado prussiano e, posteriormente alemão, que extenderam-se até antes da Primeira Guerra Mundial (1914-18). Entre as medidas “Cameralistas” destaca-se o Zollverein (União Aduaneira), que apoiado na expasão do financiamento público, bem como na infraestrutura ferroviária já na primeira metade do século seguinte, tinha o objetivo eliminar os obstáculos em relação ao desenvolvimento já alcançado pela Inglaterra (closing the gap) e impulsionar, principalmente, o comércio e a indústria nacional.

A partir do entendimento dos fatos ocorridos no período entre guerras (1914-1945), porém, denomiado de Barbárie, que o autor posicionou o surgimento do regime econômico nazista, cuja origem remete a um revés marcado por crises econômicas e intensas tensões sociais oriundas da crise de 1929, nos EUA. O momento é marcado pela reação alemã contra o capitalismo, em meio à ascensão de dois regimes, o bolcheviquismo, na Russia, e o fascismo, na Itália. A solução encontrada para recuperação econômica foi feita, como se sabe, pela eclosão de uma verdadeira “Arquitetura de Destruição” que levou o país a condição de pleno emprego.

Passado os conflitos e comprendido as especialidades institucionais e estratégias presentes ao longo da história econômica do país, o autor explica o momento seguinte, denominado Capitalismo Avançado, marcado por uma postura estatal intervencionista frente às políticas absolutamente liberais exercidas por governos em outras partes do mundo, com destaque ao papel do sistema financeiro público e privado na sustentação da taxa de investimento.

19 de set. de 2012

Resenha de "A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NA ALEMANHA"

BORCHARDT, K. La revolución industrial en Alemania 1700-1914, in CIPOLLA, C. Historia Económica de Europa: primera parte. Barcelona: Ariel, v. 4, 1987.


            Apesar da característica da Revolução Industrial ser semelhante nos diferentes países que a revelaram entre as décadas de 1780 e 1870, todas as quais acompanhadas por revoluções demográficas, agrárias e tecnológicas, o mesmo seria impossível ser dito sobre a forma e o momento em que cada qual surgira na sua própria região. Na análise de Borchardt sobre o caso alemão, o autor não só tem o objetivo de revelar ao leitor as particularidades do fenômeno que ocorrera tardiamente nesse país, notadamente no que diz respeito aos seus condicionantes históricos, geográficos e estratégicos, a contar do século XVIII, bem como os aspectos mais relevantes no que diz respeito a cada uma das três fases da sua industrialização (1850-1873; 1874-1895; 1896-1914), sem que deixe de mencionar o período pré-industrial (1815-1849).

Conforme os critérios usados pelo autor para admitir tal periodização, não havia antes de 1850 na Alemanha os elementos necessários para que o país revelasse sua inserção na nova "economia de mercado" impulsionada por seus vizinhos britânicos. Pelo contrário, a falta de uma unidade econômica e política, que só foram conquistadas em 1834 e 1871, respectivamente, a partir da união aduaneira derivada da noção de uma cultura nacional alemã e da construção de estradas de ferro que ligavam pontos em toda a região, tornaram-se verdadeiras barreiras ao seu desenvolvimento nascente e levaram ao lento progresso da industrialização nas primeiras décadas do século XIX.

O início do putting out system, como ficou conhecido o processo de produção industrial alemão, deve-se também à emancipação do trabalhador servil em assalariado. Após o decreto de Stein, em 1807, houve aumento da oferta de trabalho barato à indústria nascente, situada com baixo nível, ou progresso técnico. Não obstante, esse aparente atraso foi, na realidade, uma oportunidade para o avanço da sua industrialização a partir dos anos 1840, quando o capital das sociedades anônimas direcionou-se à indústria de bens de capital, mais moderna do que a dos concorrentes ingleses. Mas mesmo que o progresso técnico só tenham ocorrido, em grande parte, após os anos 1850, por que não considerar a Revolução Industrial nesse país à partir do putting out system, momento em que o sistema de produção já demonstrava-se ser claramente capitalista?

17 de set. de 2012

Resenha de "AMÉRICA ANGLO-SAXÔNICA DE 1815 À ATUALIDADE" - Segunda Parte

FOHLEN, C. América anglo-saxônica de 1815 à atualidade. São Paulo: Pioneira, 1980, segunda parte



A leitura do trecho selecionado da obra de Fohlen garante ao leitor pouco familiarizado com a história norte-americana um entendimento simples, porém relativamente abrangente, sobre a formação econômica dos EUA e do Canadá, contados a partir de meados do século XVIII, com destaque à independência das treze colônias que formaram a República americana (1783), até a eclosão do crack da Bolsa de Nova York em 1929.

De fácil e rápida leitura, a obra chama a atenção por sua objetividade no que diz respeito aos acontecimentos e conflitos de interesses que marcaram a divisão dos territórios e a estruturação das sociedades anglo-saxônicas tanto dos EUA como do Canadá, sobretudo a partir de 1815, quanto a incorporação do maquinário britânico (navegação a vapor e trens) gerou novo impulso à colonização dos territórios a Oeste dos Grandes Lagos.

Com a construção de canais e estradas de ferro não só foi possível aos EUA expandir seu território às terras do Oeste, como também escoar sua produção do interior do país aos portos do Leste, possibilitando-lhe também transformar sua economia, anteriormente agrária, em uma vasta economia de mercados comercialmente protegida pela declaração Monroe (1823), que representou um século de isolamento comercial dos EUA frente aos concorrentes europeus.

O regime liberal e capitalista se empunha a medida que as trails cortavam todo o território norte-americano e garantiam as bases para a Idade de Ouro, entre os anos 1860 e o final do século XIX. Tal fenômeno levou à divisão do trabalho entre uns poucos robber barons donos dos grandes trustes setoriais da época e uma massa de mão de obra barata que emigrava às milhares da Europa aos EUA estimuladas pelas melhores condições de trabalho que aí poderiam encontrar.

Em 1905 os EUA já eram considerados uma grande potência do Ocidente sendo capaz de intervir militarmente, culturalmente e economicamente em qualquer país onde houvesse interesse em assegurar as vendas com rendimentos positivos aos seus investidores. Do imperialismo ao reformismo que teve lugar nas primeiras décadas do século XX, os EUA passam por uma nova fase de Ouro na década de 1920, após sair como maior credor líquido do pós I Guerra Mundial. Sem aumentar o número de operários, mas, sua produtividade, o ano 1929 é marcado pelo crack da Bolsa de Nova York.

15 de set. de 2012

Resenha de "A GRANDE TRANSFORMAÇÃO" - Cap. 3 a 10

POLANYI, K. A Grande Transformação. Rio de Janeiro: Campos, 1980, Cap 3 a 10



Os capítulos analisados de A Grande Transformação fazem jus à elementar obra de Karl Polanyi, autor que conseguiu penetrar ao entendimento sobre as bruscas modificações da ordem social que foram inicialmente observadas na Inglaterra ainda em períodos anteriores ao da Revolução Industrial – durante o Mercantilismo – e que se consolidaram desde aí, com um ritmo cada vez mais veloz, para todo o mundo. O que talvez tenha tornado sua obra tão excêntrica é a abordagem do autor no que diz respeito às evidências dos impactos dessa extrema e brusca mudança nas bases sociais, notadamente em relação ao quadro institucional da sociedade Ocidental da época, marcada por laços de reciprocidade que há séculos era mantida entre os grupos produtivos, em detrimento de um novo regime estabelecido com base na determinação do "moinho satânico" do capital e, sobretudo no ordenamento do "exército industrial de reserva", através da formalização do mercado de trabalho.

Para Polanyi, o trabalho foi o último dos fatores produtivos a ser organizado em um sistema de mercado controlado por preços – após o capital e a terra – sem o qual não seria possível que a economia de mercado se tornasse auto-regulável. Trata-se, segundo o autor, de um sistema em que o máximo ganho monetário tornou-se o principal objetivo dos indivíduos, ante as relações de generosidade e reciprocidade sustentadas até o final do Feudalismo Ocidental. Ao passo que trabalhadores rurais haviam sido expropriados das terras comuns que lhes permitia a subsistência, através do início da política dos cercamentos (enclosures), iniciadas três séculos anteriores a Revolução Industrial e que lhes resguardava certa segurança social, novas modalidades de assistência social foram criadas a partir desta data como meio de regular o mercado de trabalho aos objetivos do capital e dirimir possíveis levantes contra o novo regime.

Assim foi no período Speenhamland (1795-1934), que criou um sistema de abonos salariais que garantia a qualquer cidadão certo "direito à vida" caso sua renda fosse menor do que a necessária para sua subsistência, com a Poor Law Reform (1834), e com o reconhecimento dos Sindicatos, a partir dos anos 1870. Longe de garantir qualidade de vida à população, tais mecanismos não passaram de verdadeiras armadilhas que tornaram a sociedade, e sua fé cega pelo progresso, não mais que um simples acessório dessa nova economia mercado auto-regulável.

14 de set. de 2012

Resenha de "O CAPITAL" - Cap. XXIII

MARX, K. O Capital. v. 1, 2. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1985, Cap XXIII



Em "A Lei Geral da Acumulação Capitalista", Karl Marx leva o leitor – provavelmente um trabalhador assalariado, ou detentor de pequeno capital – a uma certa onda de temor e apreensão diante do estado de lucidez em que passa a se encontrar. Através da série de esclarecimentos no que toca ao ímpeto da acumulação capitalista em sua forma ampliada, torna-se evidente como seus pensamentos foram preservados ao longo do tempo, assemelhando-se em número e grau aos acontecimentos perversos entre as forças produtivas nos dias de hoje.

Marx define como reprodução em escala ampliada, ou a acumulação, como a relação do capital em forma ampliada, ou seja, a reprodução do capital em mais capital – este último geralmente com melhor tecnologia para substituir o original – em comparação aos níveis cada vez menores de força de trabalho empregada, que incorpora a crescente "produtividade social do trabalho". Segundo o autor, tais condições perpetuam a real dependência do trabalho com seu próprio produto, o capital, esse último que torna a garantir parcelas maiores de mais valia (relativa), ou trabalho não pago, em escala crescente.

Não obstante, como a parcela de capital variável na composição do capital – correspondente ao acréscimo de mão de obra – é cada vez menor em comparação ao crescimento absoluto da população trabalhadora, o autor considera que "a acumulação capitalista produz constantemente uma população trabalhadora adicional relativamente supérflua" (p. 199), convertida em um verdadeiro "exército industrial de reserva", que permanece disponível ao capital, sendo ora absorvida, ora liberada, conforme as mudanças periódicas dos ciclos industriais do processo de acumulação capitalista.

Para Marx, esse exército de reserva, levado ao ócio forçado em tempos de crises, torna-se elemento fundamental ao enriquecimento da acumulação capitalista, uma vez que mantêm baixa a taxa de salários pagos à população ativa e contêm suas pretensões em momentos de crescimento econômico. Trata-se de um verdadeiro "despotismo do capital" sobre a classe trabalhadora.

Apesar da sua organização recente em sindicatos, que pleiteiam junto ao capital melhores condições trabalhistas, a fome continuará sendo capaz de fazer com a classe trabalhadora siga tão dependente do capital, em troca de um salário médio que garante pouco, ou nada mais do que simplesmente o necessário à sua subsistência?

13 de set. de 2012

Resenha de "A EVOLUÇÃO DO CAPITALISMO MODERNO" - Cap. V, VI e VIII

HOBSON, J. A. A Evolução do Capitalismo Moderno. Abril, SP, 1993, Cap V, VI e VIII



Como parte do núcleo da obra de Hobson, os capítulos em referência abordam o cerne do capitalismo moderno do final do século XIX, notadamente o caso do desenvolvimento das grandes corporações empresariais sob a forma de trustes nos EUA, caracterizadas por monopólios setoriais cuja "necessidade de um capital vultoso é maior do que em qualquer outra operação financeira" (pag. 91), com destaque às operações de grande escala de produção, a exemplo da extração de ferro e aço, produção de bens de capital e, principalmente, a indústria de transportes ferroviários, na qual a relação capital-trabalho era superior a de qualquer outra indústria da época e que, em última instância, comprovava a tendência absolutamente concentradora das empresas participantes nesses segmentos.

Além do processo de concentração do capital em poder das holding trust, que não apenas verticalizavam todas as etapas de uma mesma cadeia produtiva, desde a extração da matéria-prima, até a venda do produto industrializado no atacado, esta fase da história também revela a grande ascensão das empresas financeiras no período. Sendo elas as responsáveis pelas operações de crédito às grandes firmas, sem os quais essas últimas não conseguiriam o capital necessário à sua expansão, as empresas financeiras tornaram-se as grandes dominadoras das atividades industriais dos grandes grupos e passaram a exercer grande influência sobre as decisões do Estado nacional, a contar das políticas de proteção aduaneira conduzidas nos EUA, bem como pelo domínio da corrupção política exercido com fins comerciais naquela época.

Deveras responsável pela grande expansão econômica nos EUA, onde foi crucial para a o desenvolvimento de diversos setores estratégicos que fariam frente à forte concorrência dos produtos europeus, é de surpreender o grau de organização com que o grande capital industrial, sob a tutela do capital financeiro, conseguiu organizar toda a base da economia americana. Ainda que houvesse espaço para outras empresas, com porte menor, e alocadas em setores menos capital intensivos, como o setor têxtil, para realizar atividades customizadas, específicas, ou de suadouro (sweating business), o controle da holding trust impunha ao consumidor final, ainda assim, um tributo tão grande como se toda a cadeia produtiva estivesse incluída na esfera do seu monopólio. Revela-se aí a submissão do Estado nacional ao capital financeiro internacional?

12 de set. de 2012

Resenha de "DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA AO IMPERIALISMO" - Cap. 6 a 10

HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Forense, RJ, 1978, Cap 6 a 10


Os trechos em destaque da obra de Hobsbawn revelam o que autor denominou ser a segunda fase da industrialização britânica, amplamente difundida, ou popularmente conhecida como Segunda Revolução Industrial, entre os anos 1840-1895. O período ficou assim conhecido por revelar as drásticas mudanças de caráter científico-tecnológico, de processos produtivos padronizados e de escalas de produção jamais vistas na história, notadamente nas indústrias pesada, de carvão, ferro e aço, que juntas serviram para revolucionar os meios de comunicação e transportes utilizados na época.

Com a crescente demanda para aquisição de bens de capital advinda das outras economias mundiais, o cenário foi propício para que os investidores ingleses transferissem suas poupanças privadas para financiar a ampliação da "mania ferroviária" (1835-1847) às economias mundiais sob sua influência. Ao passo que o feito ampliava a oferta de trabalho à "massa" de mineiros, agricultores e operários industriais ingleses, os movimentos proletários como o socialismo primitivo e o cartismo pareciam enfraquecer-se, ou mesmo desapareceram. A Inglaterra contava, agora, com uma classe de proletários disposta a aceitar a proposta do laissez-faire e preocupada com a melhoria dos seus rendimentos antes que mesmo seus ideais.

Após estrondosa expansão da corrente do comércio internacional entre meados da década de 1850 e início de 1870, a Inglaterra deparou-se com a chamada "Grande Depressão" (1873-96), marcada pela perda da sua hegemonia mundial para EUA e Alemanha, que passam a concorrer e proteger suas economias das mercadorias britânicas. O "imperialismo" frente as colônias "formais" e "informais" foi a forma encontrada pelos ingleses para tentar assegurar sua soberania mundial e, a rigor, a Inglaterra utilizou sua supremacia naval para impor e continuar a exportar seus produtos a toda parte do mundo. A piora dos termos de troca dos seus produtos frente aos importados tornou sua economia cada vez mais dependente do que consiste à parte "invisível" do seu balanço de pagamentos, ou o que atualmente chamamos Balanço de Serviços, Rendas e Transferências Unilaterais Correntes. A indústria naval de ferro e aço a vapor inglesa foi a última em ascensão, porém, também não foi capazes de assegurar sua soberania na nova ordem mundial.

11 de set. de 2012

Resenha de "DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL INGLESA AO IMPERIALISMO" - Cap 1 a 5

HOBSBAWM, E. Da Revolução Industrial Inglesa ao Imperialismo. Forense, RJ, 1978, Cap 1 a 5


Os primeiros capítulos da referida obra de Hobsbawm são dedicados a analisar o período inicial da Revolução Industrial na Grã-Bretanha, notadamente no que se refere à investigação sobre as bases e os desdobramentos ocorridos nas áreas rurais da Inglaterra durante a segunda metade do século XVIII. Mais importante que qualificar o entendimento sobre o termo Revolução Industrial – cuja fase de rápida evolução técnica também já teria sido notada em outras economias que não a inglesa antes mesmo desse período – o autor busca esclarecer, então, através da análise sobre seus antecedentes históricos, o porquê da Inglaterra ter sido a primeira nação a "sediá-la" e justamente em fins do século XVIII.

Rica, poderosa e com notável marinha mercante, a Inglaterra contava no século XVIII com uma trajetória de duzentos anos de contínuo desenvolvimento econômico. Internamente, tal condição precedia da consolidação de uma sólida oligarquia liberal de base burguesa, de um lado e, de uma massa de camponeses proletários, de outro, que servia de mão de obra às atividades manufatureiras de pequenos proprietários rurais. Externamente, sua soberania foi fruto, fundamentalmente, da hegemonia comercial exercida sobre a "economia européia", pela conquista das suas colônias fornecedoras de matérias-primas na América, além da dominação de pontos comerciais no Oriente, que garantia "expandir novos mercados, senão criá-los" (p. 39).

Diferente do que posteriormente ocorrera na maior parte dos outros países no mundo, o processo de industrialização inglesa caracterizou-se pela produção em pequena escala de artefatos têxteis, além de outros bens de consumo não duráveis, como alimentos e bebidas, produzidos por glebas familiares de pequenas, porém hábeis manufaturas, que expandiam seus investimentos por adições sucessivas baseada no aumento em vendas. Ao passo que as vendas e o lucro aumentavam, novos dispositivos mecânicos eram incorporados e, embora simples aos padrões da época, eles permitiam que cada vez menos tecelões fossem necessários para operar os teares mecânicos, muito mais produtivos que suas antigas rocas de fiar. Menos relativa às invenções tecnológicas em si, a Revolução Industrial se tornou tão notável ao constituir-se no primeiro movimento capaz de transformar por completo as relações de produção dos homens na sociedade.